35 horas: devagar que tenho pressa
Há duas formas de mexer no rendimento do trabalhador: por via do salário ou por via do horário. Em 1998, António Guterres reduziu horário dos funcionários públicos para não ter de aumentar tanto os seus salários. E foi para reduzir rendimento que Passos Coelho repôs as 40 sem qualquer compensação financeira. Para voltar ao rendimento anterior o governo teria sempre de aumentar salários ou reduzir horários. Mas tirando os enfermeiros, a mudança é mais simbólica do que real. Dito isto, acho apressada a forma como se está a regressar às 35 horas na Função Pública. Grande parte das primeiras reposições de rendimentos tiveram como principal beneficiários os funcionários públicos. É natural. Também eles tinham sido os principais “beneficiários” dos cortes. Mas, mesmo quando as medidas são justas, não devemos desprezar o seu poder simbólico. Independentemente das razões dos funcionários públicos, também a tentativa de regresso à normalidade no privado será lenta. E não é irrelevante ir gerindo o equilíbrio entre as expectativas de uns e de outros, para que não se alimente a fratura que o anterior governo tão bem soube explorar