O recente ataque à Ponte da Crimeia, a famosa ponte de Kerch sobre o estreito com mesmo nome e que liga o Mar Negro ao Mar de Azov, símbolo da glória russa e do controlo da região da Crimeia foi um tiro no orgulho de Putin. Seja por ação subversiva dos ucranianos ou boicote interno de uma Rússia cada vez menos unida teve o efeito de despoletar a fúria do exército vermelho como se viu pela chuva de misseis que ontem destruíram casas, pontes e escolas em pelo menos dez cidades ucranianas.
Depois de semanas de sucessos do exército ucraniano que, para gáudio de quase todos nós, foram diariamente recuperando cidades e vilas antes dominadas pelos russos, este ataque à ponte, se efetuado por ordens do poder ucraniano pode ter revelado algum exagero ou deslumbramento. Se numa primeira leitura, tal como qualquer derrota de Putin nos parece algo positivo, pode ter atiçado a fúria ou a insensatez do líder russo e colocá-lo à beira do recurso a armas nucleares o que seria catastrófico. Alguns dirão também que este ataque poderá ter sido preparado pelo próprio Putin para justificar uma resposta mais musculada do seu exército. Por outro lado, tendo em conta que a propaganda russa sempre se referiu a esta ponte como indestrutível ou imune a qualquer ameaça, a verdade é que os autores deste ataque também poderão ter sido opositores de Putin que o pretendiam enfraquecer internamente revelando a fragilidade de uma das suas joias da coroa e símbolo do domínio da Crimeia.
Seja como for, uma nova escalada do conflito é evidente e a um nível que, se não me falha a memória recente, ainda não tínhamos visto. Nestas situações podem acontecer várias coisas, a mais terrível, a escalada para o patamar nuclear que seria catastrófico para todas as partes e é uma solução que a “propaganda soviética” nunca colocou de parte. A outra, a melhor de todas, é a escalada ser de facto grave, mas rápida, com o recurso a mísseis, mas acabar por provocar uma maior pressão interna e internacional para terminar com a guerra entre as partes beligerantes e avançar para uma nova ronda de negociações intermediadas por países como a China ou os Estados Unidos que começam a olhar assustados para uma guerra que já foi longe demais para os seus interesses estratégicos.
O que fica cada vez mais claro é que ambos os líderes desta guerra partiram para este conflito sem uma solução evidente para a paz e que jamais conseguirão uma saída digna para ambas as partes o que dificulta qualquer armistício.
Depois de meses de destruição é cada vez mais urgente uma solução de paz e parece ser tempo do regresso do esforço da comunidade internacional em mediar e terminar o conflito.
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