Hora H

Poema castrado, não

Falar de censura no caso do manual de português do 12º ano é uma desmesura, não pelo ato mas pelo efeito. Não é uma decisão perigosa nem fere Pessoa, porque o golpe oblitera-lhe a página mas não lhe fura a pele. É só uma decisão ridícula. Pelo século em que estamos e pela idade dos alunos, claro, mas sobretudo porque é infantil profanar para supostamente desprofanar a Ode Triunfal

que Almada saltaria com isto, fazendo desta brasa de três versos uma fornalha crematória de académicos antiquários de si mesmos. Dar a Ode Triunfal ao estudo sem 3 dos seus 240 ossos não é deixá-lo com 237, é fazer-lhe uma cirurgia plástica ao corpo. Não desfigura, reconfigura, debaixo de uma luz estética e usando um x-ato moral. Querem o poeta a fazer de jarra na sala de aula, querem o poema a servir de teorema para meninos de oito anos. O que estão a fazer os "pândegos" e as "putas" dentro daqueles automóveis, o que estão a fazer aqueles homens de aspeto decente masturbados nos vãos de escada? Estão lá para o contrário do que parece.

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