A história de ‘Russians’, a canção em que Sting diz que “os russos também amam as suas crianças”
Sting em 1985 no videoclip de ‘Russians’
Em pleno clima de Guerra Fria, Sting lançava em 1985 a canção ‘Russians’, na qual lembrava que, quer no mundo ocidental quer no Leste da Europa, a “biologia” humana era a mesma, “apesar da ideologia”. “Não é uma canção pró-soviética. É a favor das crianças”, esclareceria
Em 1985, Sting lançou um single que se tornou um êxito em muitos países e cuja letra ainda hoje dá origem a várias análises. Recordada por muitos neste final de fevereiro de 2022, a propósito da invasão da Ucrânia pela Rússia, ‘Russians’ contém, na sua letra, numerosas referências ao clima de Guerra Fria que naquela altura se vivia entre o Leste da Europa e o mundo ocidental, bem como a figuras históricas como líderes soviéticos e norte-americanos – e até ao criador da bomba atómica, J. Robert Oppenheimer.
Na letra da canção, incluída em “Dream of the Blue Turtles”, o primeiro álbum do ex-Police, Sting refere-se ao clima de “crescente histeria” na Europa e nos Estados Unidos; às marcantes tiradas proferidas por Ronald Reagan ou Nikita Khrushchev (que em 1956 terá prometido “enterrar” o ocidente) e à ideia pacificadora de que os russos, vistos como inimigos do ocidente, também amavam os seus filhos, partilhando com o resto do mundo “a mesma biologia, apesar da ideologia”. Ciente da polémica que a canção poderia suscitar, advertiu, ainda em 1985, à “Record Magazine”: “Não é uma canção pró-soviética. É a favor das crianças”.
Numa entrevista em 1994, o músico inglês refletia sobre este momento da sua carreira: “A ‘Russians’ é uma canção de que é fácil troçar, uma canção muito sincera. Mas na altura em que foi escrita, no auge da paranoia Reagan/Rambo, quando os russos eram vistos como autómatos sub-humanos – pareceu-me importante”, explicou. “Nessa altura vivia em Nova Iorque, e um amigo meu tinha um aparelho que conseguia apanhar o sinal do satélite russo. Íamos para os copos e depois ficávamos a ver programas matinais da televisão russa, a meio da noite. Ao ver aqueles programas infantis amorosos, tornava-se evidente que os russos não eram os autómatos que nos diziam que eram”.
A própria melodia de ‘Russians’ recorre a “O Tenente Kijé”, obra do compositor russo Sergei Prokofiev. “Foi muito maroto da minha parte roubar um bocadinho de música de Prokofiev para usar numa canção pop, mas naquele contexto fazia sentido”, acrescentou Sting.
Recorde aqui o vídeo e a letra de ‘Russians’.
In Europe and America there’s a growing feeling of hysteria Conditioned to respond to all the threats In the rhetorical speeches of the Soviets Mister Krushchev said, “We will bury you” I don’t subscribe to this point of view It’d be such an ignorant thing to do If the Russians love their children too How can I save my little boy from Oppenheimer’s deadly toy? There is no monopoly on common sense On either side of the political fence We share the same biology, regardless of ideology Believe me when I say to you I hope the Russians love their children tooThere is no historical precedent To put the words in the mouth of the president? There’s no such thing as a winnable war It’s a lie we don’t believe anymore Mister Reagan says, “We will protect you” I don’t subscribe to this point of view Believe me when I say to you I hope the Russians love their children tooWe share the same biology, regardless of ideology But what might save us, me and you Is if the Russians love their children too