A poucos dias de um concerto no Teatro da Trindade, em Lisboa, onde atua a 25 de março, Rão Kyao falou sobre “Fado Bambu”, o disco que deverá chegar às lojas em abril, e onde tenta recriar o ambiente intimista de uma casa de fados. A sua ligação à espiritualidade e à natureza são outros temas de conversa com o músico que encontra no improviso a maior fonte de prazer.
Considera que toda a música, mesmo a instrumental, é vocal porque os instrumentos têm a sua voz. Neste caso, a sua flauta. Foi por isso que deu este subtítulo, “No Som da Palavra”, ao seu novo disco?
O fado é uma música que tem na sua subsistência o facto de alguém agarrar numa letra, nos versos, e conseguir perceber o seu sentido emocional, para depois tentar tocar a música de acordo com esse sentido. A base é essa. Quando estou a tocar, tenho tendência de reproduzir a voz, de pôr o canto da flauta como a voz. Então eu imagino... para já, tento saber qual a letra que está com aquele fado, para conseguir perceber o ambiente emocional da canção. E depois, a própria métrica das quadras [tem de ser tida em consideração]. Então é muito gratificante, porque às vezes as pessoas dizem-me: “Estava a ouvir-te tocar e até consegui imaginar uma letra, com aquela cadência e aquele ambiente”. A partir daí, em conversa com o meu irmão, tinha a ideia de usar a expressão “a poesia da música”, mas ele deu-me a volta para lhe chamarmos “no som da palavra”, porque no fundo tudo tem a ver com o facto de, até no espetáculo ao vivo, termos alguém que recite os versos de cada fado, antes de o fado ser interpretado.
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