Sérgio Godinho despediu-se, nas redes sociais, de Mísia, a fadista que morreu este sábado, aos 69 anos, e para quem escreveu o tema ‘Liberdades Poéticas'.
“Brava Mísia! A morte espreita-nos sempre da esquina da rua. E no caso dela entrava como se fosse da casa. Muito ela lutou contra o grande mal, de várias formas. Mas fale-se da vida dela, e sobretudo da sua ousadia permanente, um traço de caráter criativo e nisso inigualável", escreve Sérgio Godinho.
Recordando a sua colaboração de 1993 com a artista, o autor conta: “Veio ter comigo ainda nos seus primórdios, e escrevi para ela o ‘Liberdades Poéticas’, que de certo modo se tornou uma imagem de marca, a ponto de ela ter chamado à sua empresa precisamente Liberdades Poéticas. Fiz outras canções para ela, um Fado Triplicado que muito lhe agradou, e uma letra para um tema do Carlos Paredes, de ‘Os Verdes Anos’. Interpelava-me muitas vezes, queria mais. Era intrépida pela forma como se atirava a novos projetos, muitas vezes de figurinos diferentes, sem medo de errar, de ‘fazer diferente’.”
“Uma intrépida na vida e na criação. Gostava muito disso, gostava muito dela”, remata Sérgio Godinho.
Numa entrevista ao Expresso, em 2010,
Mísia comentava a importância de ‘Liberdades Poéticas’: “Es
se fado foi, dito por especialistas, o momento da viragem. Ajudado por outros fados, claro, com letras inovadoras, através do convite a pessoas que nunca tinham escrito para fado. E ainda por cima, por acaso, eram pessoas de esquerda. Vaticinaram-me que ia ser excomungada! Eles tinham uma linguagem muito contemporânea, mas nunca fugindo aos sinais, aos signos do fado.” Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt