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Carminho ao vivo no Coliseu de Lisboa: não é luz, é treva visível. Pode um concerto ser uma autobiografia?

Carminho no Coliseu dos Recreios, Lisboa
Carminho no Coliseu dos Recreios, Lisboa
Rita Carmo

No primeiro de dois espetáculos no Coliseu dos Recreios, Carminho apresentou os fados que compõem o seu mais recente álbum, “Portuguesa”, e pelo meio contou várias histórias. Duas horas de uma voz incomparável, que até acatou ‘discos pedidos’ e teve o seu ponto alto quando desceu ao mais profundo desespero: Carminho existindo num enorme vácuo, espaço sem impulso, essencial

Paulo André Cecílio (texto), Rita Carmo (fotos)

Um drone elétrico pousou na sala e o ouvinte prestou-se a uma ainda maior atenção. Não é um som que se espere escutar num espetáculo de fado; pertence ao campo do metal, da eletrónica psicologicamente densa, da vanguarda académica da improvisação livre. Era um drone verdadeiramente elétrico e, sobre ele, Carminho cantou ‘Meu Amor Marinheiro’, a voz descendo até às mais profundas agonias. Minutos antes, havia dito não querer matar a, diz-se típica, tristeza portuguesa: “preciso dela, sou fadista”. Durante este momento, em que a boca se abriu de espanto (a do ouvinte) e de suicídio (a de Carminho), nada mais pareceu importar; aquela tristeza transformou-se em desespero, e esse desespero tornou-a, por assim dizer, em fadista ao cubo. Não foi luz, mas treva visível.

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