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Entrevista a Björk: “Se fizesse o que a Islândia queria de mim, teria passado os anos 80 a vender peixe”

Björk
Björk
Vidar Logi

É, há 30 anos, a voz e a cara da Islândia, juntando o poder da sua música a um ativismo que lhe corre no sangue. Björk regressa a Portugal esta sexta-feira com o espetáculo “Cornucopia”, na Altice Arena, em Lisboa, e falou em exclusivo ao Expresso a partir de Reiquiavique sobre o seu fascínio por Amália Rodrigues, a aversão que tem à política partidária e a forma como viveu o luto pela mãe. Uma entrevista que foi capa da revista do Expresso em junho e agora republicamos

Quando, em 1993, Björk resolveu fazer tábula rasa do seu percurso em bandas pós-punk e reapresentar-se com o álbum “Debut”, a Islândia era um território bem mais enigmático do que é hoje. Ao longo das últimas três décadas, a artista não só se tornou a sua voz mais reconhecida no mundo como ajudou a colocar no mapa a ilha onde nasceu e cresceu. Fê-lo, claro, através da sua reconhecida criatividade musical e artística, mas também pela forma aguerrida como sempre chamou à atenção para problemas ambientais, uma herança que recebeu da mãe, a ativista pelo clima Hildur Rúna Hauksdóttir. A partir da sua casa, em Reiquiavique, Björk falou em exclusivo ao Expresso no momento em que se prepara para regressar a Portugal, depois de um longo interregno de 15 anos, para um concerto na Altice Arena, em Lisboa, a 1 de setembro, integrado na digressão “Cornucopia”, assumidamente a mais ambiciosa da sua carreira. Assente nos dois álbuns mais recentes, “Utopia”, de 2017, e “Fossora”, editado no ano passado, mas sem deixar de parte ocasionais viagens a um passado que a transformou numa das vozes mais influentes e vanguardistas da pop eletrónica, o espetáculo é descrito como uma experiência imersiva, na qual o meticuloso trabalho visual e “som panorâmico” ajudam a puxar o público para dentro das canções. “Cornucopia” foi, evidentemente, o rastilho da conversa, mas a artista islandesa não se escusou a falar sobre a sua ligação à política, a complicada relação da natureza com a tecnologia, a forma como viveu o luto pela mãe ou o fascínio que sente por Amália Rodrigues.

Lisboa será a próxima paragem da digressão “Cornucopia”, que teve início, em 2019, com o disco “Utopia”. De que forma o conceito do espetáculo evoluiu com “Fossora”, álbum que editou no ano passado?
A forma mais rápida de descrever essa evolução é dizer que “Utopia” era como uma ilha nas nuvens e “Fossora” nasce debaixo do solo. Costumo compará-lo a cogumelos, como uma espécie de atalho para falar sobre a sua sonoridade. Para uma pessoa comum, pode parecer muito esotérico eu pedir a um engenheiro de som que misture uma canção dizendo-lhe para imaginar uma ilha nas nuvens, mas a verdade é que é dessa forma que falamos uns com os outros [risos]. Ao dar instruções à engenheira de som que misturou “Fossora” [a egípcia Heba Kadry], disse-lhe: “Desta vez, pensa em cogumelos no solo.” Ela compreendeu bem que a minha intenção era que o disco soasse lamacento, que devia ser pesado e sem muitas altas frequências. De certa forma, é uma espécie de jargão para o som — e tento reproduzir isso em palco. Com o “Utopia”, os flautistas estavam literalmente posicionados numa ilha nas nuvens, representando o som do ar que vem das flautas. Agora, temos clarinetes baixo e construímos uma pequena área mais rebaixada do palco, a partir de onde eles asseguram a introdução de algumas das novas canções.

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