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A loucura dos Mars Volta no Primavera Sound Porto: uma sinfonia no meio da tempestade

The Mars Volta no Primavera Sound Porto
The Mars Volta no Primavera Sound Porto
Hugo Lima/Primavera Sound Porto

A banda de Omar Rodríguez-Lopez e Cedric Bixler-Zavala deu o espetáculo musicalmente mais multifacetado do festival do Porto até agora (e, porventura, até ao seu final), com rock progressivo desvairado, ecos cósmicos, free jazz, até soul e algo mais dentro de um caldeirão fervilhante. Uma pequena multidão de aficionados resistiu à chuva insistente e aos escorregões na lama

Não haja dúvidas: os Mars Volta que entre 2001 e 2012 desbarataram o punk rock e o hardcore dos At the Drive-In e criaram obras conceptuais sofisticadas são os mesmos que, em 2019, decidiram regressar. A sua música dir-se-ia até porventura mais extrema, mais tempestuosa que onírica, mais imprevisível do que formulaica, mas é como se não tivessem estado fora.

Para simplificar, chamamos-lhe rock progressivo. O que cabe aqui, num palco onde há teclados, manipulação de som, bateria e percussão, baixo, a guitarra de Omar Rodríguez-Lopez e a pose entusiástica e histriónica de Cedric Bixler-Zavala? Cabe loucura guitarrística (Omar não se poupa), teclados labirínticos que os The Who só arranharam, camadas de rock torrencial, técnico, por vezes demasiadamente técnico (aquele exagero de geek-prodígio enamorado consigo mesmo), jam sessions charradas entre 1968 e 1970, ensinamentos kraut dos Can, trechos para cenas eufóricas em filmes giallo.

Cedric Bixler-Zavala e Omar Rodríguez-Lopez
Hugo Lima/Primavera Sound Porto

Ah, e a voz por vezes estridente, outras em falsete bem segurado, e ocasionalmente em registo soul ultra respeitável de Bixler-Zavala (veja-se ‘The Widow’), homem eternamente viciado em segurar o suporte do microfone como quem se atira a um haltere maior do que a conta.

O que há mais esta noite? Água em quantidade suficiente para fazer afundar calçado raso e pouco preparado para uma lama 10 graus negativos na escala de Glastonbury que não víamos no Parque da Cidade do Porto desde 9 de junho de 2012, primeira edição do Primavera Sound português, algures entre os guardas-chuva nos Spiritualized e o cancelamento de Death Cab for Cutie. E uma parte significativa do público ‘refugiada’ em locais menos propícios à ‘molha’, nomeadamente no espaço onde se juntam as mesas corridas da restauração, uma espécie de novo palco improvisado, o dos que se querem secos. São Pedro, que se festeja a 29 de junho, quis vir a esta festa primeiro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: blitz@impresa.pt

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