22 abril 2023 11:20

April Marmara
Em “Still Life”, o seu segundo álbum, a jovem cantora e compositora portuguesa parte de temas como a contemplação da Natureza e a passagem do tempo para a criação de oito canções encantadoras, onde apenas os mais essenciais elementos sobrevivem
22 abril 2023 11:20
Alter ego de Beatriz Diniz, cantora-compositora de Lisboa, April Marmara é autora de uma das mais gratas surpresas do ano musical até ao momento. Em “Still Life”, o seu segundo álbum, a jovem parte de temas como a contemplação da Natureza e a passagem do tempo para a criação de oito canções encantadoras, onde apenas os mais essenciais elementos — sonoros, líricos — sobrevivem.
Em belos temas como ‘Who Knows Where the Love Goes’, que abre o disco com grande elegância, ‘Wild Birds in the Sky’ ou ‘Dead Flowers’, a artista encontra todo o espaço do mundo para deixar respirar a sua voz, canora e autoral. Ora doce, ora rugoso, sugerindo a espaços a experiência de uma intérprete mais madura, é o seu timbre seguro que conduz a viagem de “Still Life”, disco escrito “com tempo” e cuja escuta convida, também, a visitas sucessivas, nas quais se parece encontrar sempre mais um delicioso pormenor. Urdido pela própria, com arranjos de Afonso Cabral (da banda indie You Can’t Win, Charlie Brown) e masterização do canadiano Philip Shaw Bova, que já trabalhou com Angel Olsen, “Still Life” representa um passo em frente em relação à promissora estreia com “New Home”, de 2018. Se então a música de April Marmara era descrita como ghost folk, essa qualidade onírica, ainda presente em canções como ‘Five Years’, parece estar a dar lugar a uma energia mais telúrica. Mais uma vez, é a voz que se mantém no centro das operações, mas saliente-se a magia dos arranjos, com violoncelos e clarinetes, pianos ou adufes irrompendo pelas canções com a beleza despretensiosa das flores selvagens. Admiradora de clássicos de várias latitudes, como Nick Drake ou Fausto Bordalo Dias, April Marmara evoca também alguns dos mais exímios praticantes da folk contemporânea, como Fleet Foxes ou Alela Diane, num álbum que, apesar de ter nascido de um lugar de “isolamento e solidão”, abre o peito ao mundo, numa partilha sensível e luminosa.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.