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Entrevista a Adriana Calcanhotto: “O mundo está ruidoso. Há barulho demais, música demais... É na meditação que encontro o silêncio”

Adriana Calcanhotto
Adriana Calcanhotto
Leo Aversa

Com álbum novo acabado de sair, Adriana Calcanhotto dá em maio e junho numerosos concertos em Portugal. À conversa com a BLITZ, a cantora e compositora brasileira contou como uma das novas canções nasceu no Porto, refletiu sobre o ruído das redes sociais e recordou com saudade Gal Costa, que irá homenagear ao vivo

Em “Errante”, o seu álbum número 12, Adriana Calcanhotto continua a trilhar um caminho feito de melodias inspiradas, letras ágeis e muita depuração. “O meu trabalho é cortar”, disse à BLITZ numa conversa generosa que passou, também, pela natureza errante do seu ofício, pela luta das mulheres e pela urgência de meditar.

Depois de dedicar uma trilogia ao mar, a Adriana volta, neste álbum, a olhar mais para dentro de si. Logo na primeira canção, ‘Prova dos Nove’, faz uma espécie de autorretrato, em que diz ter “um nome italiano, uma alma lusitana…”
Essa canção trata, tal como o disco, do resultado entre as coisas que escolhemos e as que não escolhemos. As escolhas e as não escolhas, onde estamos, o que somos, o que resulta do balanço entre escolhas. Eu acho que o que escolhemos diz tanto de nós tanto quanto o que não escolhemos, talvez mais.

Sente que teve liberdade na hora de escolher, ou foi muito condicionada?
O disco toca na convergência entre o que eu escolhi e o que não escolhi. No sentido de que eu escolhi a errância, escolhi andar pelo mundo, cantando canções. Mas, quando descobri que sou descendente de sefarditas, [percebi que afinal] não era somente uma escolha minha, é algo que já estava em mim antes. Para este disco, eu tinha 18 canções inéditas, coisa que nunca tive antes, como compositora. Então fui para estúdio registá-las e, no peneirar natural que acontece, elas viraram 11. E o ‘recorte’ [o ângulo] das que restaram é mais ou menos esse: a ideia de que a minha escolha é esta. Estar na estrada, estar errando, e nessa errância ir-me cruzando com pessoas que erram por outros motivos, muitas vezes por falta de escolha. Deixam o seu país por causa da guerra, por falta de oportunidades… ou migram porque não têm sequer nacionalidade. E eu estou a viajar porque escolhi. Mas estou errando, também, porque no meu sangue já tenho isso. [Voltando ao disco], eu gosto muito de peneirar, o meu trabalho é cortar. Quando fiz o “Margem” [em 2019], sabia que ia fazer um disco com esse título, sabia o que ele era. Aqui foi o contrário: tinha este material inédito, fui para o estúdio gravar… porque, durante a pandemia, dei-me conta do quão incómodo foi, para mim, estar confinada por imposição. Aí é que eu senti que a minha alma nómada estava muito desconfortável.

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