Ana Moura é do fado. Mas no fado de Ana Moura cabem mil fados diferentes. Encarando o género que mais fala à alma portuguesa como um organismo vivo, a fadista já tinha dado sinais de que a construção do seu percurso artístico seguia o ímpeto de esbater fronteiras. “Desfado”, multiplatinado álbum de 2012, chegou como assunção direta desse desígnio, com Moura a chamar a si alguns dos mais destacados escritores de canções contemporâneos para revigorar o seu fado. Agora, “Casa Guilhermina” escancara as portas de um presente orientado por noções de liberdade e inclusão, que contagiam a sua música com sons vindos de outras latitudes, geográficas e estilísticas. Se, por um lado, poderemos encarar este seu sétimo álbum como um passo individual corajoso, mas arriscado, por outro, não conseguimos, obviamente, antever o que esta nova guinada artística representará para o futuro do fado. O que sabemos, contudo, é que, apesar de ficar bastante claro o cariz pessoal destas novas canções, Ana Moura não enjeita o facto de ser uma das mais altas representantes do fado, tanto dentro como fora de fronteiras. E que, claro, é inegável o efeito transformador que “Desfado” teve na comunidade fadista. Posto isto, descansem os arautos da desgraça, porque se se permitirem entrar em “Casa Guilhermina” não encontrarão uma Ana Moura radicalmente diferente. O choque que se adivinhava, quando surgiram as primeiras notícias de que a fadista tinha largado tudo para iniciar uma nova vida, só será sentido por quem tem uma visão mais conservadora e se sente defraudado quando um artista não repete, ad aeternum, variações do seu “melhor álbum”.
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