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Queria mudar de nome e vender um milhão de discos: cartas de amor do adolescente (e futuro) Bob Dylan vão ser leiloadas

Bob Dylan no início dos anos 60
Bob Dylan no início dos anos 60
Getty Images

Uma íntima coleção de cartas de amor, em que um adolescente Robert Zimmerman diz à sua namorada do tempo de escola que pretende mudar o seu nome e vender um milhão de discos, está à venda em Boston. O amor chegou ao fim, mas Robert cumpriria os seus desígnios: anos depois ‘nascia’ Bob Dylan

O jovem de Hibbing, Minnesota, na altura ainda conhecido como Bob Zimmerman, escreveu as 42 cartas, num total de 150 páginas, para Barbara Ann Hewitt, entre 1957 e 1959.

As cartas, que estão a ser leiloadas pela RR Auction, nunca tinham sido divulgadas e esclarecem um período na vida desta figura incontornável da história da música popular norte-americana, sobre o qual não se conhece muita informação divulgada pelo próprio. “Este arquivo é um dos mais culturalmente importantes do século XX que já disponibilizamos”, destacou o vice-presidente executivo da RR Auction, Bobby Livingston, um grande fã de Dylan.

A coleção, que inclui um luxuoso cartão de Dia dos Namorados, é um “relato em primeira pessoa dos anos de formação de Dylan”, salientou. A filha de Barbara Ann Hewitt encontrou as cartas depois da morte da sua mãe em 2020.

Os documentos, juntamente com os envelopes originais com a caligrafia de Dylan, estão a ser leiloados como um único lote, com um valor inicial de 250.000 dólares, sendo que a licitação encerra em 17 de novembro. A RR Auction não divulgou o conteúdo exato das cartas com antecedência, mas estas contêm preocupações de adolescentes atemporais e universais: roupas, carros e gostos musicais, explicou a casa de leilões.

Dylan, agora com 81 anos, também incluiu pequenos poemas e declarou o seu amor a Hewitt. O mais impressionante será, talvez, o facto de o músico ter imaginado o seu sucesso futuro. Numa das cartas, pede feedback a Hewitt sobre a mudança do seu nome, mencionando Little Willie e Elston, e escreve sobre a venda de um milhão de discos, quando, na verdade, acabou por vender cerca de 125 milhões. "[As cartas] Realmente dão uma ideia sobre como ele se vai apresentar. Isso mostra que Dylan sonhou com tudo isto e tudo se tornou realidade - ele previu”, realçou Livingston. Como a maioria dos romances de adolescentes, este também chegou ao fim.

Numa das últimas cartas, o futuro vencedor do Nobel da Literatura pede a Hewitt que devolva as fotografias que lhe enviou. No entanto, parece que Dylan nunca esqueceu a namorada. A filha de Hewitt contou à RR Auction que Dylan ligou para a sua mãe num determinado momento, no final dos anos 1960, depois do músico ter atingido a fama, e pediu para que esta fosse para a Califórnia. Mas Barbara rejeitou.

Hewitt era ruiva e Livingston especulou ainda que as referências de Dylan a mulheres ruivas em algumas músicas foram inspiradas pela ex-namorada, incluindo "Tangled Up in Blue", onde se questiona "se o cabelo dela ainda é vermelho".

Bob Dylan é uma figura incontornável da história da música popular norte-americana, soma quase 40 álbuns discográficos - o último dos quais editado em 2020 - e mais de 125 milhões de discos vendidos em todo o mundo. Em 2016, foi distinguido com o Nobel da Literatura por, segundo a Academia Sueca, "ter criado novas expressões poéticas no âmbito da música norte-americana".

Em Portugal, a obra literária do autor tem sido publicada pela Relógio D’Água, designadamente o primeiro (e até agora único) volume da autobiografia, “Crónicas”, o livro de ficção experimental “Tarântula” (de 1966), e os dois volumes de “Canções” (1962-1973 e 1974-2001).

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