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Jorge Palma, 50 anos de carreira. Uma viagem aos primeiros passos de um sonhador

Jorge Palma, 50 anos de carreira. Uma viagem aos primeiros passos de um sonhador
Soube catalisar melhor do que ninguém a torturada alma nacional para um registo entre o music-hall e o rock, passando pelo universo dos cantautores. Ao mesmo tempo, sempre se pautou por transgredir todas as barreiras artísticas e sociais e por despertar a paixão de sucessivas gerações. Em 2022, o nosso melhor trovador errante celebra 50 anos de carreira, com seis concertos especiais. Foi assim que ele começou. Publicado originalmente na Blitz em janeiro de 2008

João Carlos Callixto (investigador musical)

Estamos em inícios de Dezembro de 2007, 35 anos decorridos sobre a estreia a solo de Jorge Palma, com o single ‘The Nine Billion Names of God’, e o seu último álbum de originais, “Voo Nocturno” manteve-se no primeiro lugar da tabela de vendas da Associação Fonográfica Portuguesa quatro semanas consecutivas, tendo conquistado já o estatuto de disco de platina. Poderá dizer-se que esta é a consagração merecida na carreira do músico, mas há muito que Palma atingiu um estatuto que foge aos normais ditames do mercado nacional.

Reverenciado por sucessivas gerações de ouvintes, nem a ‘silenciosa’ década de 1990 em que não gravou qualquer álbum de originais fez com que os ânimos se refreassem. Muito pelo contrário, e graças também à sua constante colaboração com músicos mais novos, esse aparente silêncio discográfico contribuiu para um crescendo de entusiasmo nos seus concertos que culminaria com o estado de graça que rodeou a edição de “Jorge Palma”, o décimo álbum de estúdio, em 2001. De então para cá, a ‘febre’ não parou, e “Norte”, de 2004, apesar de uma recepção mais discreta, confirmou a paixão dos portugueses pelo músico, tendo alcançado o disco de prata. Juntamente com a reedição do seu primeiro álbum, “Com Uma Viagem na Palma da Mão”, encontrámos aqui mais do que um pretexto para uma viagem aos primeiros tempos da carreira de Jorge Palma entremos assim no Portugal musical de há quase 40 anos!

ENTRE A MÚSICA ERUDITA E O ROCK

Desde muito novo que Jorge Palma se entregou de alma e coração à música, tendo sido aluno da pianista Maria Fernanda Chichorro. Foi através da mão desta que, em 1958, teve a primeira audição da sua carreira, no Conservatório Nacional de Lisboa, onde estava inscrito como aluno externo. Cinco anos depois, em 1963, classifica-se em segundo lugar ex-aequo no Concurso Internacional de Piano que tem lugar em Palma de Maiorca, organizado pela Juventude Musical local. Gradualmente, e numa época em que os Beatles eram uma das grandes referências culturais a nível mundial, os interesses musicais do jovem Palma começam a virar-se também para o jazz, para o folk e para o pop-rock. Em 1967, frequentava o antigo 7º ano do liceu como aluno interno do Colégio Infante de Sagres, nas Mouriscas (Abrantes), onde integrava o agrupamento The Dandy. Deste conjunto, apresentado como “privativo do Colégio, faziam também parte J. Manuel Santos (guitarra solo), Fernando Velez (guitarra baixo) e José Carlos (bateria). Jorge Palma ocupava-se da guitarra ritmo. 1967 foi também o ano em que se deu a viragem definitiva na construção de um rock português, com a estreia em disco do Quarteto 1111. “A Lenda de El-Rei D. Sebastião” veio demonstrar que era possível trilhar os caminhos do rock em solo lusitano e fazê-lo com talento e criatividade.

No verão de 1967, Jorge Palma parte para o Algarve, onde é convidado a juntar-se ao conjunto musical Black Boys, de Santarém, como teclista. No Verão seguinte, tendo finalmente terminado o liceu já em Lisboa, no Colégio Académico, junta-se aos Jets. Este grupo lisboeta tinha gravado o EP “Let Me Live My Life”, em cujo tema-título se encontram influências do rock psicadélico que então ‘ameaçava’ espalhar-se pelo mundo. Com a saída do teclista João Vidal de Abreu (que seguiria carreira em Espanha, primeiro com os Grimm e, já na década de 1970, com os Barrabás), os Jets recrutaram assim os préstimos de Palma. Dois dos membros do grupo, Ricardo Levy e Júlio Gomes, ambos guitarristas, estariam com ele no projecto seguinte, o grupo Sindicato, com quem se estrearia nas lides discográficas.

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