Blitz

Os Arcade Fire voltam a Lisboa no olho do furacão: como sobreviverão os gigantes do ‘indie’ ao momento mais difícil da sua existência?

17 setembro 2022 13:32

Mário Rui Vieira

Mário Rui Vieira

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Jornalista

Jeremy Gara, Régine Chassagne, Win Butler, Richard Reed Parry e Tim Kingsbury (da esq. para a dir.): os Arcade Fire em 2022

michael marcelle

Os Arcade Fire regressam a Portugal para apresentar o novo álbum, “We”. Os concertos são no Campo Pequeno, em Lisboa, quinta e sexta-feira, e estão esgotados. Atribulações extramusicais podem, contudo, ensombrá-los

17 setembro 2022 13:32

Mário Rui Vieira

Mário Rui Vieira

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Jornalista

Os canadianos Arcade Fire foram uma das últimas bandas de rock alternativo a transformar-se em fenómeno popular e hoje, 21 anos depois de se terem juntado, continuam a somar admiradores, um pouco por todo o mundo, com uma receita musical que, seguindo os ensinamentos do herói David Bowie, prima pela faceta camaleónica. “We”, o sexto álbum, foi editado em maio passado e é com ele que, quatro anos depois de uma passagem pelo festival Paredes de Coura (onde se estrearam em solo nacional, em 2005), regressam agora a Lisboa para dois concertos esgotados no Campo Pequeno (o mesmo onde esgotaram um concerto numa noite da primavera de 2018), fazendo-o num momento particularmente conturbado do seu percurso. Uma sucessão de acontecimentos agitou a dinâmica interna do coletivo nascido em Montreal: primeiro, o multi-instrumentista Will Butler resolveu sair para se dedicar a outros projetos; depois, o seu irmão, Win, viu-se a braços com acusações de conduta sexual imprópria por parte de quatro mulheres, uma das quais chega mesmo a afirmar que o músico a agrediu sexualmente por duas vezes, no ano de 2015. Dias antes de arrancarem a corrente digressão europeia, que os trará a Portugal para apresentar as canções de “We”, o caso foi tornado público através de uma investigação do site “Pitchfork”, assente em declarações das alegadas vítimas, cujas identidades se mantiveram no anonimato.

Win Butler, de 42 anos, casado há quase duas décadas com Régine Chassagne, multi-instrumentista dos Arcade Fire com quem tem um filho de 9 anos, assumiu ter mantido relacionamentos extraconjugais, mas assegura que foram todos consensuais. Numa declaração enviada à publicação norte-americana, Butler atribui as situações ocorridas a um período de alcoolismo e depressão por que terá passado, pedindo desculpa por “ter magoado quem quer que seja” com o seu comportamento. As quatro mulheres que lhe apontam o dedo tinham entre 18 e 23 anos quando os casos a que se referem aconteceram, ele teria entre 36 e 39. “Lamento não estar mais atento e sintonizado com o efeito que provoco nas pessoas. Estraguei tudo e, embora não sirva de desculpa, continuarei a olhar em frente e tentarei remediar o que possa ser remediado”, acrescentou, “amo a Régine de coração. Estamos juntos há 20 anos e ela é a minha parceira na música e na vida, a minha alma gémea. Estou agradecido por tê-la ao meu lado”. Chassagne, por seu lado, demonstrou apoio ao marido, dizendo: “Ele perdeu-se, mas encontrou o caminho de volta”. Uma das alegadas vítimas reagiu à retratação de Butler, defendendo que não espera desculpas de pessoas que “perpetuam o mal”, “mas se ele tiver parado para perceber o que fez e entender que tem de mudar o seu comportamento, talvez isso seja suficiente para proteger outras pessoas no futuro”.