Merril Nisker, que o mundo melhor conhece como Peaches, assentou arraiais em Berlim há 22 anos, no ano em que editou o álbum “The Teaches of Peaches”. Canadiana de origem, reside na cidade alemã até hoje... mas a história poderia ter sido diferente. Em meados dos anos 00, período em que se afirmou como ponta de lança do fenómeno electroclash, deixou-se abraçar pela comunidade musical lisboeta e chegou a pensar em mudar-se de malas e bagagens. Em conversa com a BLITZ, poucos dias antes de regressar a Portugal para celebrar no MEO Kalorama o vigésimo aniversário do influente disco de estreia (enquanto Peaches), a artista e performer confessa ter pensado em comprar casa em Lisboa, falando também sobre os amigos que fez pelo caminho, casos de Legendary Tigerman e Moullinex, com quem chegou a fazer música. Numa conversa animada, Peaches discorre sobre feminismo interseccional e fluidez de género, recorda a forma acolhedora como foi recebida pela comunidade rock e comenta o facto de ter sido considerada a “madrinha espiritual” da polémica canção ‘WAP’, sucesso de 2020 das rappers norte-americanas Cardi B e Megan Thee Stallion.
“The Teaches of Peaches” foi visto como um álbum revolucionário por muita gente, mas presumo que também tenha sido uma revolução em termos pessoais. Quão diferente era a sua vida antes de o ter editado?
Bom, era muito ‘localizada’. Ficava no meu quarto a fazer música, a tentar marcar concertos pequenos aqui e ali e à procura de uma pequena editora, esperando poder assinar um contrato. Não pensava em termos globais, nada disso. Visitei Berlim, conheci uma pequena editora lá, voltei para Toronto para terminar o álbum, enviei-o e eles quiseram contratar-me. Não foi um grande negócio nem nada que se pareça. Ofereceram-me quatro mil marcos alemães [cerca de 2 mil euros], portanto não era nada demais. Foi tudo tratado por e-mail, mas decidi mudar-me para Berlim, porque tinha poupado dinheiro com o meu emprego diário a ensinar teatro a miúdos. Assim que me mudei comecei a dar concertos. Duas semanas depois, já andava a voar de um lado para o outro, nada em grande, a dar concertos sozinha e a dar entrevistas. Tornou-se a minha vida, completamente diferente daquela que tinha antes. Passei a estar imersa na minha paixão e já não precisava de fazer outras coisas.
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