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Os ensinamentos hardcore da canadiana Peaches no último dia de MEO Kalorama

Burlesco, transgressão e educação sexual: Peaches no festival MEO Kalorama

Os ensinamentos hardcore da canadiana Peaches no último dia de MEO Kalorama

Lia Pereira

Jornalista

Os ensinamentos hardcore da canadiana Peaches no último dia de MEO Kalorama

Rita Carmo

Fotojornalista

Há muita gente à espera de Peaches, a rainha do electroclash e outras artes da eletrónica, no Palco Colina. À hora do jantar, a luz do dia ainda se intromete entre o despudor da canadiana e o público mas, à medida que a noite cai sobre o Parque da Bela Vista, ficam reunidas as condições para o espetáculo mais provocatório do festival ser usufruído em pleno.

Em palco, Peaches faz-se acompanhar por uma banda (destaque para a guitarrista, de visual gótico) e por várias bailarinas, que terminarão o concerto praticamente nuas. Também a nossa anfitriã se livra da maior parte das vestimentas, apresentando-se durante boa parte do tempo em topless, apenas com os mamilos tapados. É provocatório? Sim, mas nada a que não estejamos habituados por parte de Merrill Nisker, nascida em Toronto há 55 anos e renascida, mais tarde, como Peaches. Provocar, chocar e desafiar a moral estabelecida são alguns dos pontos-chave da cartilha da artista agora radicada em Berlim.

Esta noite, “a bordo” da digressão que celebra os 20 anos do álbum que a apresentou ao mundo, “The Teaches of Peaches”, houve várias canções retiradas desse disco-charneira, como ‘AA XXX’, ‘Hot Rod’, ‘Suck and Let Go’ e, naturalmente, o hino ‘Fuck the Pain Away’, terapêutica mensagem guardada para o final.

Peaches estava em palco há pouco tempo quando arriscou fazer crowdsurfing sobre os seus fãs. "Guardem os telefones", não filmem agora", rogou, sem grande sucesso. “Se eu cair, o concerto acaba aqui”, avisa, avançando corajosamente sobre as cabeças dos espectadores e abrindo caminho para uma noite de aventura e liberdade, não apenas sonoras.

Na eletrónica da autora de ‘Pussy Mask', outro dos temas interpretados hoje, cabem ecos de glam rock, punk e burlesco. No espetáculo de palco, há cópulas simuladas entre bailarinas, que mais tarde vestem máscara de vulvas (para ilustrarem o tema ‘Vaginoplasty’) ou mantos aparentemente feitos de tranças de cabelo humano.

A subtileza, já se percebeu, não mora aqui, mas não é esse o objetivo de Peaches, uma mulher que, através da transgressão e provocação, chama a atenção para mensagens importantes como a despenalização da interrupção do aborto ("Thank God for abortion", lê-se num dos seus tops). No final, visivelmente satisfeita, convidou todos a deslocarem-se até ao palco principal, para verem Nick Cave. E a multidão fez-lhe a vontade.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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