Há artistas circunspectos, inacessíveis, dissimulados na forma como se deixam atingir - e há Jessie Ware. Durante o dia, no seu Instagram, a excitação por estar em Lisboa tornou-se óbvia: Jessica Lois Ware, londrina de 37 anos, assumiu estar “a ser turista”, a encontrar amigos, a almoçar num restaurante chique, de estilo industrial, na baixa lisboeta, “a tentar encaixar o mais possível antes do concerto desta noite”. “Eu poderia viver aqui, adoro isto”.
Se há jogos que se decidem depois dos 90 minutos, com um penalty salvador, criando emoções que praticamente se sobrepõem à memória das incidências anteriores, um concerto como o de Jessie Ware foi uma pequena porção do dia da artista - comprimido para pouco mais de 40 minutos, parece ter terminado 5 minutos depois de ter começado -, mas ficou bem resolvido no épico final, ‘Save a Kiss’, uma das mais insidiosas canções soul pop dançáveis de 2020 (mas muito anos 90 nas formas), proveniente do extremamente bem sucedido quarto álbum da artista, “What's Your Pleasure”.
Tudo é hedonismo num concerto de Jessie Ware, a pedir uma bola de espelhos e uma losangular pista de dança onde, no final, dois bailarinos cintilantes, duas vozes de apoio e a estrela da companhia se juntaram para agradecer os aplausos contínuos de uma plateia que, mal o céu se escureceu, fez destes três quartos de hora uma noite inteira de prazer.
Com um fundo negro económico, as luzes incidem sobre a figura de Ware, espécie de diva disco tangível, transportando simpatia em cada gesto. A sua voz solta, facilmente serpenteante, lembra por vezes uma Florence Welch mais funky. Mas Jessie Ware é Jessie Ware e traz consigo ‘Wildest Moments’ (dez anos, já), ‘Free Yourself’ e ‘Soul Control’, trunfos que o público converte numa febre de sexta-feira à noite.
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