Blitz

A máquina infalível dos Chemical Brothers no MEO Kalorama: de concertos assim precisamos sempre

Desde a estreia nacional em 1999 que a dupla inglesa já regressou uma dúzia de vezes a Portugal, nunca fartando. Com um espetáculo de forte impacto visual, os Chemical Brothers fecharam o maior palco do estreante MEO Kalorama com o gabarito a que nos habituaram. Um ‘best of’ sem mácula, uma dança sem freio

Pediram que ninguém mais tocasse no festival ao mesmo tempo e justificaram a pretensão. A horas ainda muito católicas para os cânones dançáveis, os Chemical Brothers surgiram nas suas posições costumeiras, atrás da maquinaria através da qual - quase sem interrupções - debitariam ‘beats' irresistíveis para uma plateia que alternou o registo contido (em ‘paisagens’ mais abstratas) com as inevitáveis explosões (quando há ‘banger’ na costa).

Se há coisa que os Chemical Brothers têm é capital, arsenal, repertório para sustentar a ambição. Trinta anos de esculturas eletrónicas, umas mais graníticas, outras permanentemente maleáveis, feitos suficientes para algumas entradas na enciclopédia - venha o diabo da pista de dança e escolha - do techno, do big beat, do kraut, daquela sopa rica psicadélica tão apropriada para alongar o corpo como para exercitar raves mentais.

Com um aparato cénico que evoca outro belíssimo concerto que aqui vimos, em 2018, no Rock in Rio Lisboa - lasers, imagens sincronizadas nos ecrãs laterais, fumo - o espetáculo dos Chemical Brothers é um apuradíssimo ‘continuum’ que só pára para respirar ao fim de uma hora, apenas para que logo a seguir a intensidade aumente na caminhada para um final de êxtase.

Um suceder de trunfos logo no início, com ‘Block Rockin’ Beats', ‘Go’ e ‘Mah’. Ainda na fase inicial, a potente ‘Hey Boy, Hey Girl’ a seguir a um inédito já estreado ao vivo, mas aparentemente sem título divulgado, animado pelas imagens de uma ‘marching band’ em tons de verde, vermelho e lilás - aliás, o som do bombo passa de uma canção para a outra numa de várias sequências perfeitas que ajudam a que uma ‘setlist’ aparentemente desconexa faça todo o sentido como um todo.

Os célebres robôs gigante fazem a sua aparição em ‘Under the Influence’, num meio de concerto onde se ouve ‘Setting Sun’, colaboração com Noel Gallagher saída do aniversariante “Dig Your Own Hole”, 25 anos bem vividos - pena que ‘Let Forever Be’, outra colaboração poesterior com o ex-Oasis, esta ao jeito de ‘Tommorow Never Knows’, dos Beatles, seja uma raridade absoluta em ‘setlists' do duo.

Uma hora depois, as luzes incidem, por fim, em Ed Simons e Tom Rowlands, braços no ar como DJs dos anos 90 - que o são - e pouco depois, quando ecoa ‘Escape Velocity’, há uma vintena de balões gigantes a fazer ‘crowd surfing’. Daí para a frente, amealhar: ‘Do It Again’, ‘Star Guitar’, ‘Galvanize’. “Isto nunca mais acaba”, ouvimos, em tom tudo menos pejorativo, aqui ao lado. Acabar é um verbo sobrevalorizado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lguerra@blitz.impresa.pt

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