Longe vão os tempos em que James Blake permitia que a timidez o deixasse acanhado em palco. Naquele que foi o seu sétimo concerto em solo nacional desde que, há pouco mais de uma década, se afirmou com a sua voz possante – logo ao primeiro, e homónimo, disco –, o músico britânico mostrou a vasta amplitude da sua música, que tanto nos atira para a intimidade de uma bonita canção de amor como no momento seguinte se desconstrói em sintetizadores efervescentes e batidas profundas e intensas. A melancolia é, quase sempre, o ponto de união. É precisamente essa visão aventureira que o faz ser próximo de artistas tão díspares quanto Bon Iver, Beyoncé, Travis Scott ou Rosalía, com quem tem vindo a assinar, ao longo da última década, vigorosas colaborações.
Arrancando com os baixos possantes de ‘LIfe Round Here’, súmula perfeita da sua veia intimista, Blake brindou a plateia que se concentrou frente palco maior do MEO Kalorama com uma seleção apuradíssima de alguns dos melhores momentos da sua discografia, não se centrando particularmente em “Friends That Break Your Heart”. Do álbum editado na reta final do ano passado acabámos por apenas ouvir uma ‘Say What You Will’ intensificada por um falsete bem no ponto. Sem esquecer, claro, a versão de ‘Limit to Your Love’, original de Feist que o arrancou ao anonimato em 2010, brindada com a maior ovação do concerto, o músico mostrou-se sempre bem-disposto, trocando algumas palavras com os fãs e oferecendo inclusive o alinhamento a um fã de primeira fila: “Se vêm com um cartaz, recebem a ‘setlist’”.
Depois dos ‘vocoders’ de ‘Mile High’, colaboração com Travis Scott e Metro Boomin, e de uma especialíssima ‘You’re Too Precious’, Blake atirou-se a um dos momentos mais inebriantes da atuação: ‘Voyeur’, em versão distendida, puxou o pé para a dança com as suas batidas redondas e sintetizadores efervescentes. Para as despedidas, regressou à terra, e a território bem conhecido, com a intimidade dos impulsos ácidos de ‘Retrograde’, rematando depois com ‘Godspeed’, colaboração com Frank Ocean registada em “Blond”, o já longínquo segundo álbum do cantor norte-americano.
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