Mais que Portugal, é Rocktugal: Legendary Tigerman e Blind Zero fizeram brilhar as quinas em Vilar de Mouros
The Legendary Tigerman no EDP Vilar de Mouros
RUI DUARTE SILVA
The Legendary Tigerman no EDP Vilar de Mouros
RUI DUARTE SILVA
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O homem-tigre homenageou o amigo Afonso Macedo, falecido nessa madrugada, e mostrou-se imparável, com uma vontade imensa de fazer amor com todo o público de uma vez só. Pela terceira vez em Vilar de Mouros, os Blind Zero conseguiram que ninguém tivesse sentido saudades dos ausentes Wolfmother
Paulo André Cecílio (texto), Rui Duarte Silva (fotos)
Não se pode falar do festival de Vilar de Mouros sem se falar da música feita em Portugal. Ao longo de mais de meio século, por aqui passaram nomes como o Quarteto 1111, Jáfumega, GNR, Carlos Paredes, Xutos & Pontapés, Madredeus, Da Weasel, Pop Dell'Arte, Clã, Sérgio Godinho ou Linda Martini. Naquela que foi a última noite da edição de 2022 do festival, os Blind Zero e Legendary Tigerman voltaram a esta notável companhia (ambos já haviam passado pelo festival), que tal como a bandeira nacional tantas vezes erguida dentro do recinto por uma das 'personagens' do Vilar de Mouros eleva bem alto o rock português.
Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero, entrou em palco com uma vontade tremenda: as duas mãos no microfone, as pernas em ação constante, e uma atitude tal que nem deu para nos lembrarmos de que os portuenses só aqui estiveram porque os Wolfmother decidiram cancelar a sua atuação. A banda foi, a pouco e pouco, acompanhando o seu frontman nessa dança combativa que torna o rock n' roll ainda mais rock n' roll. A sua vinda a Vilar de Mouros serviu para apresentar, ao vivo, alguns dos temas que constarão do seu novo álbum, "Courage and Doom", a ser lançado até final deste ano. O que se escutou deixou antever boas coisas, mas foram os temas mais antigos - como 'Shine On', batida dançável e aura gótica - os que mais se destacaram de um concerto que terminou, como não podia deixar de ser, com o grito de "viva Vilar!".
Blind Zero no EDP Vilar de Mouros
RUI DUARTE SILVA
Blind Zero no EDP Vilar de Mouros
RUI DUARTE SILVA
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Já Paulo Furtado não precisou de puxar dos galões: a sua própria música é o combate, daquela(s) sua(s) guitarra(s) jorram os ecos ancestrais do mais elétrico dos blues e do mais salvífico do rock. E o mais norte-americano dos portugueses começou por mostrar, ao fundo, imagens daquela América que tantos e tantos sonhos alimentou, perante um público fervoroso que saiu (uma vez mais) maravilhado com a energia daquele homem-tornado, tornado tigre tornado lenda. Do baú resgatou já velhos clássicos (e como o tempo passa!), casos de 'Naked Blues' ou 'Walkin' Downtown', antes de se atirar ao portento rock que é 'Black Hole', de "Misfit" (2017).
Legendary Tigerman faz parte de um grupo singelo de artistas que, mais que dar um concerto em palco, demonstra uma vontade imensa de fazer amor com todo o público de uma vez só. "Amor" foi uma palavra repetida pelo próprio, que deixou o conselho: à falta dele, resta sempre aquele verbo começado por "f". Em mais um excelente concerto de alguém que nunca terá dado um mau, destacaram-se o "duelo" entre Paulo Furtado e o saxofonista João Cabrita, as imagens dos bōsōzoku em 'Motorcycle Boy', a homenagem ao falecido DJ e promotor Afonso Macedo antes de 'Fix Of Rock n' Roll' e a já tradicional descida do palco, para junto dos seus fiéis, no tema com que encerrou, '21st Century Rock N' Roll'. Enquanto veias houver, o seu rock continuará a correr.
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