Blitz

O rock está vivo, aleluia! A eletricidade vital dos Black Rebel Motorcycle Club no EDP Vilar de Mouros

"O que é que aconteceu ao meu rock and roll?", perguntavam eles em 2001 numa autêntica bomba em forma de canção. Ora, em 2022 o rock and roll respira em Vilar de Mouros com o cabedal preto e a mística elétrica dos Black Rebel Motorcycle Club. No meio das sombras há uma luz que nunca se apaga

Paulo André Cecílio (texto), Rui Duarte Silva (fotos)

"O que é que aconteceu ao meu rock'n'roll?", perguntam os Black Rebel Motorcycle Club nessa bomba-canção editada em 2001, altura em que o rock voltava a ganhar força entre os mais jovens: era a época dos Strokes e dos White Stripes, a época em que pegar numa guitarra e fazer barulho, depois do fim do grunge e da britpop e da ascensão do hip-hop, voltava a conter dentro de si uma certa coolness. Mais de vinte anos depois, o tema que à altura soava a um grito de guerra poderá ser agora entendido como um lamento, dada a ausência, pelo menos dos topos das tabelas de vendas, da música feita com guitarras estridentes, baixos pesados e baterias que nos fazem sentir coisas.

Se depender dos norte-americanos, o rock não morrerá nunca. Em palco, os Black Rebel Motorcycle Club encarnam todos os 'tropos' desse género que mudou o mundo: o logótipo apresentado no ecrã de fundo qual tatuagem de uma máfia secreta, o cabedal preto ostentado como um tesouro, o simples ato de prender um cigarro entre as tarraxas da guitarra enquanto aquela música, blues psicadélico de viagem, vai ecoando pelo éter e apelando à revolução. A estrada deve eventualmente guiar-nos por todo o mundo, escreveu Jack Kerouac no clássico "On the Road". Com essa frase em mente - e o que é o rock senão a evolução da liberdade beat? -, o que os Black Rebel Motorcycle Club nos propõem é que abandonemos o conforto material e nos atiremos de cabeça para a vida. Porque se assim não for, que sentido tem tudo isto?

Não foi preciso tê-los a interagir com o público como velhos amigos, ainda que tenham deixado elogios ao recinto e a Portugal e tenham terminado com um simples "cuidem uns dos outros". Também não foi preciso um enorme aparato cénico, algo que pudesse distrair de canções como a supracitada 'Whatever Happened...' ou 'Beat the Devil's Tattoo'. A sua fórmula foi extremamente simples e eficaz, e resume-se a riffs influenciados pelo rock mais "garageiro" e a uma batida meio dançável, meio xamânica, a voz um mero complemento à verdadeira palavra, que foi (é) a eletricidade. Tinham a tarefa, ou oportunidade, de fazer esquecer quem se viu forçado a cancelar a sua presença no EDP Vilar de Mouros, no caso os Limp Bizkit e os Hoobastank, e acabaram por se revelar mais essenciais que estes. "O que é que aconteceu ao meu rock n' roll?": está aqui, ainda bate, ainda resiste, ainda incendeia. Ainda bem.

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