Camisa preta aberta, saltos em catadupa, pontapés na atmosfera, o gatinhar pelo chão. Ver os Suede ao vivo é, mais que qualquer outra coisa, não conseguir deslocar os olhos de Brett Anderson, que aos 54 anos continua a ser um verdadeiro dínamo, o resultado do cruzamento entre uma estrela rock e o coelhinho das pilhas Duracell: bastaram duas canções para o incontestado vocalista já se apresentar completamente encharcado de suor, tendo passado do encharcado para o empapado em apenas mais duas.
Claro que, a acompanhar Anderson nas suas descargas, continua a estar uma banda extremamente coesa e, o que é melhor, fresca. E o que é o "fresco" no rock n' roll? É aquela qualidade, por vezes inexplicável, que poucas bandas, sobretudo aquelas que já viveram tanto ou mais tempo que os Suede, continuam a ter nos seus espetáculos ao vivo; a ideia de que estão a fazer aquilo tudo pela primeira vez, o sentimento de que ainda têm algo a provar e acne para sarar. O ritmo é dançável, o baixo pulsa, as guitarras rangem. E, no epicentro do furacão, um furacão ainda maior.
Em "The Last Party", livro sobre o nascimento e ocaso da britpop, Brett Anderson conta que, nos tempos áureos dos Suede, havia quem o odiasse tanto que o ameaçava de pancadaria na rua. Passados quase 30 anos desde essa nova invasão britânica, aquilo que o vocalista recebeu em Vilar de Mouros foi sobretudo amor: houve quem tivesse vindo ao festival com o único e exclusivo propósito de o testemunhar e, com ele, entoar bem alto os versos da belíssima canção que é 'Trash' (prova de que se pode ser romântico *e* autodepreciativo *e* ter imensa piada nessa autodepreciação).
Anderson, que deixou elogios ao público português e por diversas vezes desceu às grades, distribuindo abraços e mimos variados e, até, aproveitando para "roubar" um telemóvel, atuou com o interesse de quem ainda considera ter os melhores fãs do mundo, ou seja, dando tudo de si e nem um grão a menos. Debaixo dele, as canções: 'We Are the Pigs', 'The Drowners', 'Can't Get Enough', uma bonita 'She's In Fashion' em formato acústico e, a fechar, 'Beautiful Ones', entoada por todos. No encore, já depois de ter perguntado se os Suede poderiam, eventualmente, regressar (sim, caramba, claro que sim), ainda lhes deu 'New Generation'. Qualquer concerto dos Suede é uma vitória, pelo que é melhor construírem-lhes um museu para guardar as taças.
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