Quinze minutos volvidos sobre o início do espetáculo de Princess Nokia e em palco temos um DJ a passar sucessos retumbantes da música de dança europeia dos anos 90, de Venga Boys aos Aqua. "Este é que é o Princess Nokia? Não estava nada à espera disto", ouvimos aqui mesmo ao lado.
Não, este não é o Princess Nokia. Quando Princess Nokia, ou Destiny Nicole Frasqueri, rapper de Nova Iorque com 30 anos, dá finalmente entrada em palco, as dúvidas dissipam-se. Para trás ficou um quarto de hora desconcertante, em que Paredes de Coura cantou em uníssono preciosidades como "back in plastic, it's fantastic". Adiante.
Princess Nokia justificou plenamente o lugar que ocupou no elenco da última noite de Paredes de Coura. Assumindo o grande palco do festival apenas com a companhia do animado DJ, não se apequenou e mostrou uma dose gigante de galhardia, confiança e languidez. Entrou de mangueira erguida à frente da cintura, aspergindo água com esgar de malandrice ao som de 'American Woman', o clássico dos The Guess Who a que Lenny Kravitz deu nova vida no final dos anos 90.
Com ascendência porto-riquenha, serve um alinhamento económico que passa por 'Slumber Party', tema de Ashnikko de 2021 em que participa, berço de versos gráficos q.b. como "Me and your girlfriend playin' dress up at my house/ I gave your girlfriend cunnilingus on my couch", e que, mais adiante, cita Nelly (porque, evidentemente, "it's hot in here', e não é mentira alguma), Britney Spears e Christina Aguilera. E por 'Gemini' ("I am Gemini/ Like Pac, André, Lauren/ And Kanye, Boy George, and Anne Frank/ I am Gemini, but no, I'm not fake/ I am Gryffindor/ But don't move like snake"), prenhe de referências à cultura popular.
Respondendo com humor aos cartazes do público, desmultiplicou-se também em mensagens positivas, mostrando gratidão "a Deus", "ao público maravilhoso" e honra por "abrir um concerto dos grandes Pixies" (calma, ainda falta um concerto de Slowthai até revermos Black Francis em carne e osso). Pronunciando-se sobre os 'hot topics' do género e raça, arredondou com: "Eu sou tudo. E que o importa é ser boa pessoa, ámen". E sobre o aborto, a mensagem é límpida: "o corpo é meu, a escolha é minha".
Em noite de lotação esgotada com forte pendor rap no horário noturno (e um final que se prevê gigântico, digamos assim), a atuação de Princess Nokia foi extraordinariamente bem recebida pelo público courense. Não restarão dúvidas de que a história da edição deste ano também se fez aqui.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes