Blitz

Yellow Days no Vodafone Paredes de Coura: pode uma medíocre banda soul dar um bom concerto? É complicado

Nos britânicos Yellow Days nada encaixa a não ser a benevolência do público do terceiro dia do Vodafone Paredes de Coura, maioritariamente sentado num fim de tarde soalheiro enquanto aguarda maiores emoções. Música de cruzeiro, sem chispa ou fagulha, num dos raros erros de 'casting' do palco maior do festival

Com origens que remontam a 2017, os Yellow Days são uma banda erguida em torno do guitarrista e vocalista britânico George van den Broek, projeto inicialmente caseiro de 'bedroom pop' mesclado com intenções soul e a faceta narcótica de Mac DeMarco.

Transferidos para Los Angeles, os Yellow Days verteram em dois álbuns boas ideias, mas concretizadas de forma deficitária. O lado 'hazy' de Mac DeMarco não é especialmente convivente com uma soul pop também ela aquém dos planos assentes na cartilha. Falando curto e grosso, George van den Broek não tem voz nem meios para isso.

Acompanhado da guitarra elétrica e com uma banda relativamente insossa em carisma ou evidências de especial talento (ainda que um piano elétrico faça sempre boa figura), o músico britânico, mostrando uma 'carecada' recente, atirou-se com empenho e simpatia (ainda que com um registo soul pouco convincente) às canções que depositou nos álbuns "Is Everything OK in the World" (2017) e "A Day in a Yellow Boat" (2020) e mais algumas entradas avulso, sendo recebido por uma plateia especialmente bem composta para o 'slot' debutante do palco principal courense.

Musicalmente falando, contudo, a sensação que persiste é de uma mesmidade desinteressante, como se Broek se limitasse à emulação dos seus ídolos (Mac DeMarco, perdoe-se a repetição, é aqui uma marca demasiado presente), deixando tudo nas mãos de um efeito 'feel-good' que, se é apropriado à bonomia do fim de tarde veraneante, não deixa marca na carne. Nem soul, porque falta literalmente a alma que a sustém, nem indie pop, porque carece da capacidade de enlevar através da dormência e da aparente letargia que - lá está - Mac DeMarco tem a rodos. Melhor sorte virá neste terceiro dia de festival.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lguerra@blitz.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas