Ainda há luz do dia em Paredes de Coura quando, no palco principal, as luzes se acendem para receber o regresso de uma banda que conhece bem esta casa: os Linda Martini, que hoje deram o seu sexto concerto no festival, trazendo várias novidades. Uma delas é o seu novo álbum, "Errôr", lançado este ano, cuja faixa de abertura, 'Eu Nem Vi', é também o primeiro tema do concerto. Outra é Rui Carvalho, que os melómanos poderão conhecer como Filho da Mãe, músico de mão cheia que ocupa, agora, o lugar deixado vago por Pedro Geraldes, antigo guitarrista da banda.
Todos vestidos de negro, e contornando como sempre qualquer protagonismo individual, os Linda Martini propuseram-se a cumprir o seu propósito quase ancestral: o de "suar [assim mesmo, de transpirar] em português". No écrã gigante, tinta negra vai escorrendo sobre um fundo branco, e há qualquer coisa dessa contundência nas canções saudavelmente agressivas da banda da Grande Lisboa.
'Boca de Sal', do álbum homónimo dos Linda Martini, de 2018, despertou algum mosh nas primeiras filas, antes de Cláudia Guerreiro se dirigir aos fãs, agradecendo-lhes por "aceitarem a chuva" (note-se que a meteorologia nunca se revelou, ao longo deste primeiro dia, tão agreste como algumas previsões faziam crer).
'Super Fixe', também do novo disco, começa com um diálogo curioso, espelhando aquilo a que os norte-americanos The National chamariam "the unmagnificent lives of adults", e esse arranque falado liga-se, de certa forma, às narrativas dos Mão Morta, que se seguirão no alinhamento. Pontos extra para a coerência do cartaz engendrado para este dia tão especial.
Primeira pedrada dos Linda Martini no lago da música portuguesa, 'Amor Combate' provou ainda tocar nos corações machucados de quem reconhece a canção de 2006 aos primeiros acordes. À confissão de André Henriques - "O nosso amor morreu/Quem o matou fui eu" - segue-se a catarse potenciada pela bateria diabólica de Hélio Morais e a impressão de que esta rapaziada é a mais sensível das bandas 'duras', ou então a mais dura das bandas sensíveis.
A purga continuaria com 'Ratos' ("já tem uns aninhos, é como nós") e, no final sempre aguardado, '100 Metros Sereia', cuja tirada "f*der é perto de te amar, se eu não ficar perto" parece ter-se tornado já uma adágio das relações modernas, que o público anseia sempre por gritar - e hoje não foi exceção. "Foram dois anos de merda, mas hoje estamos todos aqui", congratulou-se Hélio Morais. A festa do reencontro continua nos próximos quatro dias.