Nos últimos anos, especialmente desde que editou o muito elogiado segundo álbum, “El Madrileño”, C. Tangana deixou de ser "apenas" um rapper espanhol para se tornar uma das maiores estrelas que Espanha viu nascer este século. A par de Rosalía, com quem chegou a manter uma relação amorosa, o músico, cujo verdadeiro nome é Antón Álvarez Alfaro, extravasou fronteiras e tem ajudado a evangelizar o mundo para a música tradicional espanhola, sem nunca se deixar limitar pelas fronteiras de um só género. Esta noite, no palco do Super Bock Super Rock, mesmo não tendo sido a sua estreia em terras lusas, fez nascer uma relação ardente com o público português. Num concerto estrondoso, de pouco mais de uma hora, Tangana teve a multidão na palma da mão e fez com ela o que quis.
O espetáculo, centrado principalmente nas canções de “El Madrileño”, que apesar de ter sido editado em fevereiro do ano passado já soa a clássico, gira, obviamente, em redor do seu carisma, mas está montado de forma a que o verdadeiro batalhão de músicos que o acompanha em palco possa brilhar individualmente. Mais do que grande protagonista, Tangana é mestre de cerimónias, percorrendo os vários "cenários" do palco enquanto oferece, de bandeja, uma série de canções tornadas hinos: 'Comerte Entera', 'Demasiadas Mujeres' e 'Ateo', três das mais celebradas da sua discografia, foram, curiosamente, servidas de rajada pouco depois de o espetáculo começar, gerando os maiores coros (e subsequentes ovações) que o Super Bock Super Rock de 2022 ouviu até ao momento.
Entre brindes, beijos atirados para a plateia e uns passinhos de dança sedutores, o músico deixou-se envolver pela irresistível guitarra acústica de 'Me Maten', sentado, e bem rodeado, na mesa comunitária montada no plano mais elevado do palco, atirou-se ao flamenco indomável de 'Ingobernable' e serviu um medley estranhamente coeso no qual juntou 'Los Tontos' a uma curta versão de 'Bizarre Love Triangle' dos New Order e uma gitaníssima 'Alegría de Vivir'. Depois de girar o disco para o hip-hop com a batida profunda de 'Tranquilísimo', parceria com Israel B e Lowlight, e 'Llorando En La Limo', apontou para outras latinidades com um 'Muriendo de Envídia' a transpirar Cuba por todos os acordes.
Sempre apoiado por um público efuzivo, "Lisboa, vamos embora já, ou quê?", o músico iniciou a sequência de despedida abrandando o ritmo com 'Nunca Estoy' e, logo de seguida, agitando os ânimos com uma intensa 'Tú Me Dejaste De Querer', servida em conjunto com os mestres do flamenco La Húngara e Niño de Elche. Uma estrondosa 'Antes de Morirme', dueto com Rosalía resgatado a 2016, preparou as despedidas mantendo a agulha no flamenco. Pouco depois, visivelmente satisfeito com a festa que acabara de servir em palco, fez chover espumante sobre a plateia enquanto se ouvia uma versão de 'Al Di Là', popular canção italiana. Concertos deste calibre são raros, artistas generosos como C. Tangana também. Já temos um grande "vencedor" deste Super Bock Super Rock.
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