Já não falta assim tanto tempo para “Arular”, o subversivo álbum de estreia de M.I.A., completar duas décadas de vida. É chocante? É... Mas é bom perceber que o espírito da artista britânica se mantém hoje, quase 20 anos depois, tão indomado quanto na fase em que ‘Galang’ irrompeu como um foguete nas nossas vidas. Esta noite, no palco Heineken do NOS Alive, Mathangi Arulpragasam vinha preparada para celebrar a vida e brindou o público, que não demorou muito a encher a tenda, com um autêntico festão de batidas urgentes, rimas que ora se atropelam ora se deixam degustar com maior vagar e umas belíssimas coreografias, protagonizadas por um quarteto de b-girls que aniquilou qualquer dancinha de TikTok que ameaçasse irromper na plateia.
É claro que a carreira discográfica de M.I.A. não ficou cristalizada nos dois assombrosos primeiros álbuns, mas foi deles que saíram alguns dos momentos mais efervescentes de um concerto que, depois de uma ausência de uma década, a atirou de volta para os braços dos fãs portugueses. A abertura apoteótica ao som de ‘Born Free’ e ‘BirdFlu’ rapidamente nos atirou para aquele território familiar, porque ela no-lo apresentou, entre um ritual tribal e uma coreografia ao jeito de Bollywood. Jogando forte, não se deixou levar em cerimónias, casando umas velhinhas, e militaristas, ‘Bucky Done Gun’ e ‘Pull Up the People’ com a efervescência de ‘XR2’.
“Como é que estão? Há muito que não nos víamos”, atirou, a dado momento, preparando uma plateia já bem aquecida para o hino ‘Bad Girls’, cujos versos “live fast, die young, bad girls do it well” foram entoados em coro por uma multidão enlouquecida. O rosnar ameaçador de ‘Bamboo Banga’ irrompia, depois, de um caos controlado, e quando M.I.A. exigiu: “Lisboa, preciso da vossa ajuda”, já ninguém conseguiu controlar a reação efusiva a ‘Galang’, canção que, em 2003, a colocou no mapa. ‘Borders’ entrou, então, com uma mensagem de paz que encontrou eco na frase da camisola que a artista entretanto vestiu: “a energia divina irradia através da beleza e do génio”. Chegado o hino ‘Paper Planes’, o descontrolo na plateia já tomara proporções gigantescas. “Obrigado por passarem a noite connosco. Há tanta merda louca no mundo, neste momento”, atirou, pouco depois, em jeito de despedida.
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