9 julho 2022 3:57

























As primeiras notícias no regresso à estrada não foram as melhores. Primeiro Hetfield inseguro em palco, depois vídeos virais de Kirk Hammett a falhar, com estrondo, em palco. A Algés os Metallica chegaram afinados para um dos melhores concertos em anos
9 julho 2022 3:57
São quarenta anos de carreira, milhões de discos vendidos e um número incontável de concertos dados, por todos os continentes, em décadas sucessivas, cruzando tendências e demais modinhas. Como poucos, os Metallica sabem como se agarra um público. Com clássicos agressivos, com temas mais obscuros para os fãs mais exigentes, com os singles mais orelhudos para quem, por acaso, passa por ali em registo de festival.
Em encerramento da tour europeia, em Algés, a noite começou com Whiplash, de "Kill em All", depois 'Creeping Death', de "Ride the Lightning", e logo de seguida 'Enter Sandman', do disco preto, o que todo o Mundo conhece. Estava agarrado o público para duas horas de concerto que passaram sem que o tempo se contasse.
James Hetfield vacilou no arranque da digressão que marcou o regresso dos Metallica à estrada onde já poucas máscaras se encontram. Pouco depois, Kirk Hammett acabaria deitado em palco, num vídeo viral, ao falhar a entrada de 'Nothing Else Matters' e a pedir desculpa pelo colapso nas notas que já tocou milhares de vezes. Mas se o recomeço da vida dos Metallica na estrada foi atribulado, a Algés, no fim da passagem pela Europa, o monstro revelou-se afinado.
De guitarra em riste e público na mão, a controlar coros e aplausos, Hetfield, Ulrich, Hammett e Trujillo não facilitaram e se os mais atentos lá foram identificando uma ou outra falha nos malabarismos mais rockeiros, no final o aplauso foi sentido. Todos em vésperas de conquistar o estatuto de sexagenários, todos certeiros e capazes de fazer levantar um estádio. No caso, de fazer levantar Algés.
Se os fãs de Metallica pouco perdoam, e se a maioria exige que as notas gravadas no final dos idos 80 soem imaculadas, como se acabadas de gravar por jovens aspirantes a estrelas de rock, a verdade é que nos dedos da mão direita de Hetfield se lê riff, o segredo mais mal guardado do rock. Porque se o assunto são os Metallica, é do riff que sai o swing que faz o público dançar. É também do riff que sai o peso que os fez reis de um género fora de moda. Mas se também é dos pulmões e cordas vocais de Hetfield que saltam os refrões, hoje foi dos dedos de Hammett que se soltaram os solos de que muitos já tinham saudades de ouvir. Certeiros como há muito não se ouvia.
Se o tempo passa pelos Metallica, no NOS Alive as marcas foram disfarçadas. Talvez mesmo só visíveis aos olhos dos mais atentos. Esses podem ter dado pela troca de camisola de Robert Trujillo, das alças pretas e lisa para uma branca com bonecada desenhada onde se lia "Hellfire Club", o tal da série que termina com o seu filho a tocar a música que, desde então, não parou de escalar nos tops e com a qual fecharam a noite em Lisboa. 'Master of Puppets', um sucesso para quem os acabou de conhecer na Netflix, uma despedida perfeita para quem assistiu a mais um concerto da máquina mais certeira do rock.