Subir ao palco antes de um concerto dos Metallica poderia ser uma tarefa ingrata, mas a verdade é que os Royal Blood não só não acusaram a pressão como aproveitaram cada segundo que passaram na companhia de um público participativo e genuinamente entusiasmado com a sua entrega. Mike Kerr, estiloso vocalista e baixista, e Ben Thatcher, baterista que acumula funções de maestro de mosh pits, serviram uma boa dose de eletricidade em aproximadamente uma hora de concerto. Com um gingar muito próprio, que deve muito mais aos Queens of the Stone Age do que aos Metallica – por muito que seja Lars Ulrich o ídolo da t-shirt de Thatcher –, os Royal Blood partiram das canções do terceiro, e mais recente, álbum, mas foi especialmente com os temas do disco de estreia que conseguiram deixar a plateia a seus pés.
A intempestividade de ‘Typhoons’ mostrou, logo a abrir, que a dupla, acompanhada em palco por um discreto teclista, estava pronta para enfrentar a multidão de peito aberto. O que se seguiu foi uma verdadeira lição de rock, com tanto de musculado quanto de sedutor, bem rasgado em ‘Boilermaker’, exibicionista em ‘Come on Over’ ou bem gingado em ‘Trouble’s Coming’. As descargas dos inúmeros baixos mascarados de guitarra (em elevada rotação entre canções) de Kerr e da portentosa bateria de Thatcher, em grande destaque na plataforma mais alta do palco, encontraram especial eco no público que se concentrou bem frente ao palco, ruidosamente conhecedor das canções da banda. E nem com o longo solo do baterista durante uma ‘Little Monster’, recuperada a 2014, e com direito a contagem decrescente para o gongo final, o entusiasmo esmoreceu.
O ritmo envolvente de ‘How Did We Get So Dark?’, as pitadas de teclas de uma recente ‘Million and One’ e as explosões incontidas de ‘Figure It Out’, provavelmente o maior sucesso do duo, e trunfo sabiamente guardado para a reta final, fizeram as delícias dos milhares que não só se mostraram rendidos aos dotes dos Royal Blood como aproveitaram bem para aquecer as vozes para os Metallica. O ponto final, agreste, como convinha, chegou com ‘Out of the Black’, a primeira canção do percurso da banda que invariavelmente é a última a fazer-se ouvir nos seus concertos. Visivelmente satisfeita, a dupla abandonou o palco depois de um intenso diálogo instrumental, servido no topo da bateria, e de cumprimentar a plateia bem de perto, numa passadeira que, certamente, foi montada especialmente para os senhores que se seguem.
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