Rolling Loud Portugal: Jack Harlow é mesmo o novo menino bonito do rap americano
Jack Harlow no Rolling Loud Portugal
Mickey Pierre-Louis/itchyeyephotos
Numa noite de muitas primeiras vezes por cá, vários dos mais badalados criadores de potenciais clássicos do universo rap deram o ar da sua graça na edição de estreia do Rolling Loud Portugal, em Portimão, e provaram que o presente e futuro são mais luminosos do que alguns vaticinam. Jack Harlow levou a taça
Alexandre Ribeiro
"Come Home The Kids Miss You" é o título do novo álbum de Jack Harlow, mas, a partir de ontem, Portugal vai ter vontade de colar essa frase na caixa de comentários de toda e qualquer nova publicação do jovem rapper no Instagram. Apesar de raramente conseguir entregar o que vai prometendo em projetos mais longos, e especialmente no mais recente disco, já deste ano, o que vimos e ouvimos in loco na Praia da Rocha, em Portimão, prova que o carisma está mesmo lá, mas não só: a excelente técnica ao vivo, ainda mais quando pomos em comparação com praticamente todos os outros do programa do primeiro dia do Rolling Loud versão portuguesa, foi fator decisivo para o atirar para o topo da lista de candidatos a melhor prestação do festival.
De “WHATS POPPIN” e “I WANNA SEE SOME ASS” a “Tyler Herro” e “Industry Baby”, uma canção, a “maior de 2021”, do “ícone” Lil Nas X, como fez questão de ressalvar, o artista de Louisville, Kentucky, deu um pouco de tudo no alinhamento, desde temas em que mostrou as qualidades enquanto o rapper competente que é até àquelas mais dançáveis e com balanços irresistíveis; e sem esquecer as faixas mais direcionadas para o público feminino, que se fez sentir de forma mais audível neste concerto (e aí “First Class” levou a taça).
Jack Harlow no Rolling Loud Portugal
Henry Hwu
E a habilidade para manusear o público a seu bel-prazer também merece uma nota de apreço por si só: o público decidiu trocar o agora recorrente cântico “esta merda é que é boa” pelo famoso grito que Cristiano Ronaldo dá depois de marcar um golo – no entanto, tem de ser dito que tanto Harlow como a plateia puxaram mais por um “suuuuu” do que por um “siiiii”. Engraçado como na forma escolhida por ambos a coisa fica mais perto de um apupo, que neste caso nem se justificava.
Jack Harlow no Rolling Loud Portugal
Mickey Pierre-Louis/itchyeyephotos
Imediatamente depois, no mesmo palco, o principal, Roddy Ricch surpreendeu e muito com uma seleção meticulosa dos hits que já tem no seu catálogo, destacando-se principalmente “Die Young”, tema em que colocou no ecrã imagens de XXXTENTACION, Biggie e, entre outros, Nipsey Hussle – este último mereceu ainda juras de amor eterno aquando de “Racks In The Middle”, música que, com banda, ficou ainda mais cristalina.
Um dos mais interessantes rappers que metem (e bem) as melodias em primeiro lugar na hora de “cuspir”, Ricch aproveitou aquele seu espaço para fazer ouvir “pushin P” e falar sobre Young Thug e Gunna, que continuam presos, mas que foram muito importantes para si desde o início desta sua caminhada que parece ainda ter muitas pernas para andar.
Para além dos temas anteriormente mencionados, não puderam faltar “The Box”, “The Woo” ou “High Fashion”. E se alguém achava que aquilo que ele teria para contribuir para a cultura já se teria esgotado, Ricch trocou as voltas a essas más-línguas com um espetáculo oleadíssimo a proporcionar vários momentos de deleite.
Rico Nasty no Rolling Loud Portugal
Mickey Pierre-Louis/itchyeyephotos
No sentido completamente contrário àquele que Ricch e Cole assumiram, Rico Nasty apresentou-se no palco secundário e teve, infelizmente, direito a viver aquela que foi, muito provavelmente, a atuação menos concorrida do dia – a culpa foi de Don Toliver, um fenómeno que se tornou mais óbvio depois de vermos uma série de gente a correr em direção ao palco onde iria atuar. Isso não a demoveu na hora de motivar o grupo que se encontrava à sua frente, incitando-os a fazerem moches (a certa altura até sugeriu que se fizesse um só com mulheres).
Depois de um aquecimento com o seu DJ em que se ouviu Kendrick Lamar por breves momentos e “Faneto” de Chief Keef, o que veio a seguir foi pura libertação de raiva, o trap mais embebido em punk (e cheio de distorção) que se possa imaginar a ser disparado em todas as direções. “Smack A Bitch” não pôde faltar, pois claro; tentem só acompanhar a energia. Não é para todos.