Blitz

NOS Alive: Entre o músculo e a melancolia, o charme discreto dos veteranos Modest Mouse

NOS Alive: Entre o músculo e a melancolia, o charme discreto dos veteranos Modest Mouse
Hugo Macedo

"Nunca tinha estado em Lisboa e tinha muitas ideias sobre a cidade, todas erradas", confessou o vocalista Isaac Brock. "Vocês devem ser muito saudáveis, por subirem tantas colinas." Não tanto como os corações se exercitaram numa tenda a ferver, de calor e entusiasmo, para receberem um punhado de clássicos do indie rock.

NOS Alive: Entre o músculo e a melancolia, o charme discreto dos veteranos Modest Mouse

Lia Pereira

Jornalista

Não são muitos os fãs que, no palco Heineken, esperam pelos Modest Mouse às 20h, hora a que deveria ter atuado a norte-americana Clairo. Mercê do caos instalado nos aeroportos europeus, porém, a estreia da novata em Portugal foi cancelada e, na sequência de uma mexida no alinhamento, os veteranos do indie rock passaram a poder deitar-se mais cedo, tocando à hora de jantar em vez de à uma da manhã.

Podiam não ser muitos, dizíamos, mas mal os primeiros acordes da primeira canção, 'Dramamine', se fazem ouvir, percebe-se que estes espectadores são, na sua maioria conhecedores, e que provavelmente esperaram muitos anos para ver a tardia estreia de Isaac Brock e companhia no nosso país.

Frente a uma imagem de fundo entre o bucólico e o alucinogénico, com cogumelos brotando do nome da banda fundada na aurora dos anos 90, o sexteto que em tempos albergou o mítico Johnny Marr apresentou uma amostra do seu indie rock versátil, com tanto de músculo como de melancolia, e com tantas direções para o passado como para o futuro.

Se estivéssemos a olhar para um mapa, podíamos dizer que os Modest Mouse vêm dos Pavement e dos Pixies e seguiram caminho até inspirarem uns Strokes (aqueles riffs empertigados) ou uns Foals (nas canções com mais balanço). Até o que viria a ser o emo passa por esta atuação na qual Isaac Brock deixa o couro e o cabelo e os seus companheiros alternam entre as guitarras e o baixo, o contrabaixo e as teclas.

Para fazer uma metáfora com a imagem que ornamenta o palco, é como se as guitarras (impertinentes, viciantes) fossem as árvores à volta das quais floresce o jardim tantas vezes surpreendente dos Modest Mouse. Apesar da boa reação a canções como 'We Are Between', 'Ocean Breathes Salty' ou 'Bukowski', a festa, que é como quem diz os coros afinados e os telemóveis ao alto, estavam guardados para a chegada de 'Float On'. Em 2004, a banda radicada em Portland lançava o álbum "Good People For People Who Love Bad News" e oferecia ao mundo a canção que, 18 anos depois, todos quiseram cantar. Logo de seguida, 'Dashboard', do álbum que se lhe seguiu, "We Were Dead Before the Ship Even Sank", gravado com Sir Marr a bordo, prolongou a euforia.

A despedida de um concerto porventura mais breve do que estaria previsto, devido à troca de horário, fez-se em modo mais rock, com 'Back to the Middle' e 'Tiny Cities'. "Nunca tinha estado em Lisboa e tinha muitas ideias sobre a cidade, todas erradas", confessou a certa altura Isaac Brock. "Vocês devem ser muito saudáveis, por subirem tantas colinas." Não tanto como os corações e os sorrisos se exercitaram numa tenda a ferver, de calor e entusiasmo, para receberem um punhado de clássicos do indie rock.

Alinhamento:

Dramamine
We Are Between
Lampshades
Paper Thin Walls
Fire It Up
Ocean Breathes Salty
Bukowski
Fuck Your Acid Trip
Float On
Dashboard
Back to the Middle
Tiny Cities

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate