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Rock in Rio Lisboa: o diário de Bárbara Tinoco, uma princesa que anda de skate em palco

Naquele que considerou ter sido "um dos concertos mais especiais" da sua vida, Bárbara Tinoco encontrou à sua espera uma plateia conhecedora de todas as suas canções confessionais. E ainda aproveitou para apresentar o namorado aos fãs. "Isto não é um casamento, malta!"

Num final de tarde ventoso, a jovem Bárbara Tinoco reuniu, no palco Galp Music Valley, uma multidão muito respeitável, que assistiu de forma participativa àquele que a cantora-compositora considerou ter sido um dos concertos mais especiais da sua vida. "Esperámos dois anos para podermos dizer isto: boa tarde, Rock in Rio!", exultou a voz de 'Outras Línguas'. Nesses dois anos, a popularidade de Bárbara Tinoco disparou em flecha; se, aquando do convite original, a artista diz nem ter percebido o que o festival viu em si, agora já conta, no seu currículo, com um EP, um álbum e numerosos concertos, incluindo em salas de prestígio como os coliseus. Na base de toda esta popularidade, e do carinho que recebe do público, estão as canções que escreve e que todos cantam, quer estejam de olhos pregados no palco, quer circulem pelo espaço descontraidamente. Na plateia, há muitos grupos de jovens amigas, mas não só: as canções de Bárbara Tinoco, que se assemelham a páginas do diário de uma mulher em busca de emancipação emocional, tocam o coração de todos os que acompanham as letras de 'Estrelas', 'Sei Lá' ou 'Advogado' com todo o rigor e emoção.

Acompanhada por uma banda à qual se juntará, mais adiante, o seu namorado Feodor Bivol, a artista lisboeta foi oferecendo com firmeza as canções confessionais que escreve, marcadas por um romantismo ainda não tingido pela vida. "Não me fales de amor, tu estragaste o conceito", é o tímido grito de revolta de 'Outras Línguas'. Mas a música de Bárbara Tinoco, que se apresenta num palco em tons de pastel, rodeada por gatos violeta e balões brancos, é sempre harmoniosa e pacífica, mesmo quando espelha os inevitáveis sobressaltos amorosos. "Esta é uma canção que escrevi quando estava muito triste", revela sobre o êxito 'Sei Lá'. "Quando estou triste, gosto de ir até ao fundo. Mas se é para estar triste, ao menos que faça dinheiro com isso!", gracejou. Mais adiante, admitirá que ensaiou todos os pequenos discursos que antecederam as canções, tendo sido traída pelo nervosismo na 'explicação' de 'Carta de Guerra', uma dedicatória aos seus avós e às cartas que os mesmos trocavam quando o avô João estava na Guerra Colonial. Apesar de, a certa altura, ter pegado numa bandeira ucraniana, não há por aqui qualquer intenção política. As canções que o público entoa em coro são pessoais e transmissíveis, versando mais os assuntos do coração do que as dores do mundo. Em 'Tragédia', por exemplo, a contadora de histórias alude a pequenos dramas como "comer salada, usar tampões ou conhecer as novas namoradas dos ex-namorados"...

Em 'Gisela', uma das canções mais próximas do universo neo-tradicional do seu herói Miguel Araújo, Bárbara Tinoco entra em palco de skate, para logo a seguir apresentar ao público o seu namorado, que trata por "bichinho. Trouxeste-me flores, estúpido!", exclama, surpreendida com os girassóis que recebe do companheiro e com ele cantando a primeira canção que escreveram juntos, 'Noutra Vida'.

Para o final, quis guardar a canção "com que tudo começou": 'Antes de Ela Dizer que Sim', tema da sua lavra que, em 2018, foi desafiada pelo júri do programa "The Voice" a partilhar. O tema não lhe valeu a vitória no concurso, mas mostrou que, mais do que cantora, Bárbara Tinoco tinha em si uma voz, e uma veia, de compositora. Em 2022, junta-se a esses trunfos um pequeno mas sólido cancioneiro que o público do Rock in Rio Lisboa cantou, com todo o calor possível, neste lusco-fusco ventoso. Bárbara saiu de palco feliz, e com todas as razões para isso. Como diria um dos grandes, "coisa mais preciosa" do que entrar nos ouvidos dos fãs "não há".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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