Não é particularmente feliz a história dos Interpol no Primavera Sound portuense, por onde já tinham passado em 2015 e 2019. A memória conserva mais nitidamente o concerto de há três anos, na última edição do festival do Porto antes da forçada pausa pandémica, onde o grupo se limitou a debitar, sem alma, um repertório praticamente imutável, assente sobretudo na dupla "Turn On the Bright Lights" (2002) e "Antics" (2004), discos que captaram o (e, em certa medida, deram corpo ao) revivalismo pós-punk da primeira metade da década 00 deste século, com extensão para "Our Love to Admire" (2007), álbum em que soube expandir horizontes para uma música menos compacta, mais panorâmica.
É certo que o grupo de Paul Banks lançou deste então quatro álbuns, mas com poucas ou nenhumas canções a acrescentar ao cânone, facto facilmente atestável na expressão mínima que encontram no alinhamento desta noite - 12 das 16 entradas do alinhamento são do intervalo 2002-2007.
Revivalismo por si só nada tem de nefasto - veja-se o caso dos Pavement, que esta sexta-feira neste mesmo local não passaram de 1999, ano em que deram por fim as suas atividades discográficas, e fizeram-no muito bem - mas no caso dos Interpol, pelo menos no que na componente ao vivo diz respeito, nota-se um prolongado desalento, uma certa letargia, tanto na moleza com que certas canções são interpretadas, como no fraco impacto que mesmo 'C'Mere' ou 'Evil', repertório respeitável da mesma 'era dourada', conhecem numa plateia numerosa. Plateia que, muito provavelmente, aguarda com maior expectativa os cabeças de cartaz da noite, Gorillaz, reservando passividade para os seus antecessores.
A história deste concerto é a de um débito certinho de canções - de 'Pioneer to the Falls' a 'Obstacle 1', passando pelas novas 'Fables' e 'Toni' -, a que faltou juntar uma espessura emocional, tanto na entrega vocal (a voz de Banks já conheceu melhores dias) como na procura de simbiose com o público. Não se nega que a frente de palco, onde os fãs mais devotos se concentraram, reagiu mais entusiasticamente à entrega, mas comprova-se uma vez mais que o cenário ideal para um concerto dos Interpol, dado a um certo apetite narcótico, seria um espaço fechado, onde todas as luzes brilhantes seriam mais facilmente acendidas.
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