Enquanto no palco principal a neozelandesa Stella Donnelly recorre ao seu melhor sorriso coquete para conquistar a plateia, chegando a cantar uma versão de 'Love Is In The Air', no Palco Binance (ex-palco ATP) o que enche o ar é algo diferente. Uma nuvem de distorção, uma ameaça velada, uma lenda chamada Kim Gordon, que entra em palco com o estilo e a confiança dos deuses e é recebida em conformidade.
Acompanhada por um trio de baixo, guitarra e bateria, a norte-americana cujo nome ficou firmado no imaginário da música popular como baixista dos Sonic Youth apresentou-se, aos 69 anos, com um visual entre o andrógino e o colegial. A música no menu foi a do disco de estreia lançado em 2019, "No Home Record", marcado pela experimentação e pelos claustrofóbicos ambientes eletrónicos (os Idles de 'Car Crash', tema do mais recente "Crawler", parecem ter ouvido este álbum).
'Air BnB' e 'Paprika Pony', cujo ritmo mais dançável levou uma espectadora a ensaiar muma espécie de twerk, foram algumas das paragens da jornada de Kim Gordon no lusco-fusco. No ecrã ao fundo do palco, foram sendo projetadas imagens de uma viagem de carro e, ouvindo o disco e vendo o concerto, faz sentido pensar que, mais do que uma casa ou um destino, interessa à artista, criada na cena underground de Nova Iorque, o percurso.
Com escala no noise, na eletrónica e no punk mais minimalista, Kim Gordon conduziu o seu veículo através de uma bolha de ameaça rock e insinuação sexual, cativando uma plateia com muitos espectadores estrangeiros e um habitué bem português: Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta, melómano avistado com frequência nos grandes festivais do norte.
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