Completa-se este ano uma década desde que Miguel Araújo, que o país conheceu como elemento de Os Azeitonas, deu início à sua emancipação musical. Tal como o próprio assume, em conversa com o Expresso, o músico e a pessoa que era em “Cinco Dias e Meio” (2012) pouco ou nada se assemelha ao artista que hoje escutamos no novíssimo quinto álbum “Chá Lá Lá” (sexto, se contarmos com a banda sonora “As Canções da Esperança”, editada no final do ano passado). De lá para cá não só abraçou a desafiante tarefa da paternidade, deixando para trás a “vida boémia” que levava, como se tornou um dos escritores de canções mais aplaudidos e requisitados do país, assinando canções para Ana Moura, Ana Bacalhau, Carminho ou António Zambujo. Os concertos intensificaram-se — para a história ficam as “28 Noites ao Vivo nos Coliseus” que partilhou com Zambujo, o seu parceiro musical mais assíduo —, a voz tornou-se mais profunda e menos nasalada (“fui operado duas vezes ao nariz desde o primeiro disco, porque tinha um desvio de septo brutal”) e, mais importante do que tudo isso: aprendeu a gostar de cantar. “Achava uma tragédia ter que cantar e agora é uma coisa que gosto muito de fazer”, assume, “olho para trás e aquela pessoa já não sou eu. Com 33 anos era uma pessoa totalmente diferente da que sou agora, aos 43”. Mantém-se, contudo, constante a sua queda para retratar o quotidiano, depurando as preciosidades que encontramos nas banalidades do dia a dia nas canções que escreve em “ato contínuo” e de forma instintiva e natural, como quem “aspira as migalhas de uma bolacha”.
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