Linda Martini ao vivo em Lisboa. As canções de hoje e de ontem, uma nova guitarra e o suor de sempre num Musicbox a abarrotar
Linda Martini / foto: Rita Carmo
Foi num Musicbox a rebentar pelas costuras que os Linda Martini se deixaram envolver num abraço apertado dos seguidores mais fiéis. As canções de “Errôr”, o novo álbum, foram servidas, lado a lado com alguns clássicos, com a ajuda preciosa do guitarrista Rui Carvalho (Filho da Mãe)
Não há palco demasiado grande ou demasiado pequeno para os Linda Martini. Já sabíamos disso, mas é sempre bom recordar. Quer seja num festival a fervilhar ou num Musicbox a rebentar pelas costuras, a banda não desiste até conseguir arrancar o último pingo de suor à plateia. Foi assim esta noite na sala do Cais dos Sodré, em Lisboa. E se havia algum tipo de dúvida quanto à adaptação, em palco, à saída do guitarrista Pedro Geraldes, ela ficou totalmente desfeita aos primeiros (e intensos) acordes de ‘Eu Nem Vi’, canção que abre o novo disco, “Errôr”, e que teve também honras de abertura do concerto. Não falamos de “substituto” ou de “guitarrista convidado” aqui: Rui Carvalho, que conhecemos como Filho da Mãe e que vive desde os If Lucy Fell na órbita familiar da banda, tem trilhado o seu próprio caminho, mas nos próximos tempos será um Linda Martini. Não são uns novos Linda Martini nem uma conta de 3+1, são os Linda Martini de sempre em palco com Rui Carvalho.
A hora e meia de concerto começou com o novo mantra “eu nem vi que eu sem ti sou só eu sem ti” e encerrou com um outro que os acompanha, de forma inescapável, há pelo menos 12 anos. “F*der é perto de te amar se eu não ficar perto”, o grito de ordem de ‘Cem Metros Sereia’, vai ser sempre, venham as canções que vierem, o clímax dos espetáculos dos Linda Martini. O facto de terem encerrado dessa forma só demonstra que muita coisa pode mudar nesta nova fase da vida do agora trio, mas André Henriques, Cláudia Guerreiro e Hélio Morais não abrem mão da relação de codependência emocional que foram desenvolvendo, ao longo das duas últimas décadas, com um séquito de admiradores em constante renovação. Entre ‘Eu Nem Vi’ e ‘Cem Metros Sereia’ não houve muito tempo para respirar: o mote era recuperar o tempo perdido nestes dois últimos anos pandémicos.
Vimos cervejas a voar e vimos mergulhos nas filas da frente, ouvimos gritos de incentivo e coros de impor respeito. E assistimos à força demolidora das novas canções, lado a lado com alguns dos hinos mais certeiras de um repertório à prova de bala. Se ‘Rádio Comercial’ rapidamente recebeu selo de aprovação em forma de crowdsurfing, ‘Boca de Sal’ recuperou a dopamina do disco anterior. As paisagens inóspitas e tensas de ‘Sorriu’ e o crescendo de ‘Medalhinha’ concorreram em intensidade com uma ‘Se Me Agiganto’ que se mantém firme no pódio das melhores canções dos Linda Martini. Recuando ainda lá mais atrás, esbarrámos com o muro de som de ‘Putos Bons’, encontrámos o equilíbrio certo de energia com ‘Panteão’ e vimos resgatada aquela juventude sónica com ‘Dá-me a Tua Melhor Faca’.
Nenhum dos regressos ao passado, contudo, ofuscou a força das novas canções. Entre espasmos e explosões de bombo, as palmas de ‘Horário de Verão’ chegaram bem ensaiadas (“estava a correr bem, mas vão mais devagar”), os versos interventivos de ‘E Não Sobrou Ninguém’ ganharam eco pela sala (“não sei se têm reparado no que anda a passar-se aí no mundo”), o rasgo constante de ‘Não Me Continuem’ alimentou-se de uma bateria a correr num galope desenfreado para depois nos trazer de volta à terra. E quando, já perto do final, o público pedia mais, a banda esclareceu: “O Rui ensaia connosco há três semanas e toca hoje 18 músicas. Merece uma salva de palmas… mas também é um ótimo bode expiatório para não tocarmos algumas músicas”.
Restavam a exclamação pandémica ‘Taxonomia’, perdida entre as notícias e a claustrofobia da sala de estar, e o (falso) encore composto por ‘Dá-me a Tua Melhor Faca’ e ‘Cem Metros Sereia’, perfeito para esvaziar as últimas reservas de energia. As emoções estiveram à flor da pele, em cima e fora de palco, certamente por razões diferentes e ampliadas por tempos confusos, mas os Linda Martini provaram esta noite, em Lisboa, que, tal como confessaram à BLITZ, ao falar da recente condição de trio, têm “muita vontade de continuar a fazer isto”. Não há tempo para uma “pausa para compromissos” e o público agradece.