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Morreu a cantora brasileira Elza Soares

Elza Soares/Facebook
Elza Soares/Facebook

A artista brasileira tinha 91 anos e morreu esta quinta-feira no Rio de Janeiro. “A cantora eleita como a Voz do Milénio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo”, lê-se em comunicado

A cantora brasileira Elza Soares morreu esta quinta-feira, 20 de janeiro, aos 91 anos.

Segundo informação avançada pela sua assessoria de imprensa, Elza Soares morreu em sua casa, no Rio de Janeiro, de causas naturais.

“Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milénio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com [a] sua voz, [a] sua força e [a] sua determinação”, escreve-se ainda em comunicado.

Considerada uma das maiores cantoras da música brasileira, Elza Soares começou a sua carreira no samba no final da década de 1950, lançando 34 discos, em que além do género mais popular da cultura brasileira, também cantou outros ritmos como jazz, hip-hop e música eletrónica.

Mercê da popularidade dos álbuns lançados nos últimos anos, como “A Mulher do Fim do Mundo”, em 2015, Elza Soares atuou em Portugal recentemente, passando pelo festival Vodafone Mexefest, em 2016, e pelo NOS Primavera Sound, no Porto, em 2017. Em 2016, atuou também na Casa da Música, na Invicta, e em Aveiro. Nessa altura, deu uma entrevista ao Expresso, na qual confessava não saber quantas vezes já tinha sobrevivido.

ENTRE A MISÉRIA E A GLÓRIA

Nascida numa família muito pobre e criada numa favela do Rio de Janeiro, Elza Soares viveu entre a miséria e a glória. Aos 12 anos, obrigada pelo pai, casou com o homem que abusara de si, tendo o primeiro filho. Viria a ser mãe por mais sete vezes, perdendo dois bebés para a fome e entregando um para adoção, por falta de condições. Garrinchinha, filho da sua relação com o futebolista Garrincha, morreu aos 9 anos num acidente automóvel, em 1989. Em 2015, a artista perdeu um outro filho, Gilson, de 59 anos.

A primeira atuação de Elza Soares aconteceu em 1953, quando se apresentou no programa de rádio “Calouros em Desfile”, desconcertando o apresentador Ary Barroso, que lhe perguntou de que planeta vinha, com a resposta “do planeta fome”.

Depois de lançar vários discos nas décadas de 1960 e 1970, nos anos 80 Elza Soares pediu ajuda a Caetano Veloso para relançar a carreira. O baiano convidou-a para a canção ‘Língua’, do álbum “Velô”, de 1984. Em 2015, foi apresentada a uma geração mais jovem com o álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, composto apenas por inéditos e ultimado com uma série de produtores de São Paulo. Seguiram-se “Deus É Mulher”, em 2018, e “Planeta Fome”, em 2019. Nesse ano, esteve novamente em Portugal a propósito do lançamento da sua biografia.

Em 2020, escreveu no Instagram que não contava a sua própria idade. “Nunca parei para contar. Ia dar uma trabalheira danada. Há dias em que nem nasci ainda, estou no ventre, em outros acabei de nascer, sei lá. Sou menina, filha do século 21 e mulher feita, tenho a idade de Nefertith. Vou vivendo, reinventando-me e vivendo nos últimos anos, os melhores dias da minha vida.”

A mulher que, em 1999, foi eleita pela BBC como a cantora brasileira do milénio acabaria por cumprir o seu desejo de cantar até ao fim; para fevereiro, tinha concerto marcado em São Paulo. Morreu 39 anos depois de Garrincha, que conheceu em 1962 e com quem foi casada até 1982. O futebolista brasileiro, com quem Elza viveu uma relação conturbada e marcada pela violência, morreu a 20 de janeiro de 1983.

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