Foi jornalista do Expresso durante 10 anos, mas mudou-se para o outro lado da barricada para trabalhar em consultoria e integrar a equipa criativa d’O Apartamento. Há sete anos criou A Vida de Saltos Altos, cujas crónicas femininas foram publicadas em livro em 2011. E em 2012 lançou “Os Segredos da Maleta Vermelha”, um livro cheio de mel e piri-piri. Adora observar pessoas, mas odeia rótulos: mais do que consultora, blogger ou jornalista, assumead-se como mulher. Das que gostam de contar histórias.
Imaginemos que, de repente, as mulheres paravam de desempenhar todo o trabalho doméstico e de prestação de cuidados. O que acontecia ao mundo? Tarefas menosprezadas, porém essenciais à sobrevivência da sociedade, e que recaem desproporcionalmente sobre os braços, mentes e tempos das mulheres. Não é ao acaso que esta quarta-feira, para assinalar o Dia Internacional da Mulher, se realiza também à escala global a Greve Feminista, que incita as mulheres a pararem por umas horas. Porque se as mulheres param, o mundo pára
Abuso sexual, casamento forçado, mutilação genital, violência doméstica e obstétrica: são inúmeras as agressões vividas desproporcionalmente por meninas e mulheres. Portanto, sim, que se assinale o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. E que se fale especificamente sobre elas, nós. Nem tudo pode ser sempre sobre eles
Em vez de oferecerem flores às mulheres, ofereçam um pouco de reflexão sobre as múltiplas formas de injustiça que ainda pautam as vidas no feminino. Sabiam que a cada 11 minutos uma mulher é assassinada às mãos de um parceiro íntimo ou de um familiar? Ou que todos os anos 15 milhões de meninas são obrigadas a casar, o que dá uma média de 28 por minuto? E que ainda vamos demorar 136 anos até se atingir igualdade de género plena no mundo? Ou seja, nenhum de nós estará cá para ver. Se acham que o Dia Internacional da Mulher não faz sentido, eis uma lista de dez números que podem ajudar a compreender porque é que ainda precisamos dele
Corre desde esta quarta-feira um artigo escrito por um homem sobre o atentado ao pudor que são os cartazes dos “Monólogos da Vagina”. Nas suas palavras, uma peça “ordinária e promíscua”, cujos reclames “despoletam comportamentos violentos e abusivos” ao mencionarem a genitália feminina. Sabem o que espoleta a violência sexual? A normalização do machismo. E a forma perversa como se continua a achar que isto da sexualidade feminina é um assunto que pode pertencer publicamente ao domínio da fantasia e dos desejos masculinos, negando, contudo, às mulheres a expressão do seu corpo e prazer para bem dos bons costumes. Será que esta pessoa sabe a importância que esta peça tem tido na luta contra a repressão e violência sobre as mulheres nos últimos 20 anos?
Assinala-se hoje Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Decidi fazer uma pesquisa no Google circunscrita ao último mês e o que encontrei foi um sem fim de notícias macabras que espelham a realidade das múltiplas formas de agressão vividas por meninas e mulheres mundo fora. Torturadas, violadas, perseguidas, assediadas, vendidas, mortas. Em comum entre todas? Foram homens os seus carrascos. Se ainda duvidam da dimensão global da violência de género, talvez o resultado desta ida ao Google vos elucide
Humilhações, situações de condescendência, coação para procedimentos de conveniência, atos médicos realizados sem consentimento. Mulheres que saem do suposto momento mais feliz das suas vidas com mazelas físicas e psicológicas. Sim, a violência obstétrica existe em Portugal, por mais que a Ordem dos Médicos não goste desta expressão. Isto significa que toda esta classe médica e de enfermagem é má? Claro que não, nem tampouco é um ataque a estes profissionais. Mas as más práticas existem, é uma constatação. E não é aceitável continuarmos no registo do “tive sorte”, como se a experiência de gravidez e parto fosse uma roleta russa que depende de quem se apanha pela frente. O respeito e empatia pelas parturientes têm de ser a regra
Um homem viola uma mulher num comboio nos EUA e a única coisa que algumas das dez pessoas que seguem na mesma carruagem fazem é filmar com o telemóvel. Ninguém tentou parar o agressor, ligar para a polícia ou puxar o travão de emergência. Apenas filmaram o crime e a prolongada agonia da vítima. O que nos diz tudo isto sobre quanto vale a vida de uma mulher em 2021? E como se explica esta inação de quem assiste sem nada fazer? Respostas complexas, mas que têm um eixo comum: a normalização da violência contra as mulheres
Nunca o mundo foi tão evoluído, nem tanto se falou de direitos humanos. Contudo, milhões de meninas e mulheres continuam a ser escravizadas, torturadas, violadas e mortas em cenário de guerra, como se isso fosse um simples dano colateral. Em 2021, continuam a ser privadas dos seus direitos mais básicos, numa demonstração perversa de supremacia masculina em guerras feitas por homens e para os homens, mas nas quais são elas, nós, as suas maiores vítimas. O que se passa no Afeganistão é só mais um exemplo da desumanização histórica das mulheres ocorrida nestes contextos. E é urgente refletir porque é que isto acontece um pouco por todo o mundo
Um tweet sobre a escolha do vestido de uma das assistentes do programa Preço Certo levantou um debate sobre a objetificação das mulheres que é pertinente, mas que, porém, se tem desvirtuado por muita gente não entender isto: a crítica à roupa de Lenka não é uma crítica a Lenka. Esta pode não só usar o que quiser, como aceitar usar o que a produção quer, a isto chama-se autodeterminação. A crítica é ao facto de um canal de tv ainda recorrer a este tipo de guarda-roupa e ao intuito com que o faz. Será ao acaso a escolha de um micro-vestido? Ou será um isco para captar audiências masculinas? E porque é que em 2021, a sexualização das mulheres ainda serve de isco? E porque raio um vestido curto ainda nos sexualiza?
Quando importunadas por estranhos muitas vezes as mulheres riem e fazem-se de tontas. Mais ou menos como fez a estudante do vídeo que tem corrido as redes sociais, que a mostra a ser assediada por um motorista quando se encontrava sozinha com ele num autocarro, em Coimbra. E sabem porque o fazemos? Não é por acharmos piada, é por termos medo do que pode acontecer se ripostarmos quando temos alguém maior que nós a encurralar-nos. Em vez de questionarmos porque é que a rapariga riu e desconversou, alegando que ela estava a gostar da atenção e deu sinais confusos ao “pobre do homem”, talvez esteja na altura de questionarmos: porque é que um homem se sente na legitimidade de encurralar uma miúda e fazer-lhe comentários de teor sexual?