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Porque é que ter o poder em Istambul é tão importante?

22 junho 2019 14:07

Foi disputada ao longo dos séculos por impérios e conquistadores, e agora é o epicentro do mais recente sismo político na Turquia. As eleições para a câmara de Istambul estão a ser repetidas este domingo, depois dos resultados de 31 de março que deram a vitória à oposição terem sido contestados pelo partido do Presidente Erdogan. Ganhe quem ganhar, a cidade e o país estão divididos ao meio. Mas por que razão Istambul é tão decisiva? Reportagem vídeo na cidade que pode decidir muito sobre o futuro político da Turquia nos próximos anos

22 junho 2019 14:07

“Vai ficar tudo bem.”

Esta é provavelmente uma das frases mais ditas, ouvidas e lidas em Istambul nos últimos dias. Há músicas no ar com o refrão, há pessoas que a gritam nas ruas à medida que distribuem folhetos, há cartazes e bandeiras a repetir o mesmo. “Vai ficar tudo bem” é uma tradução do turco “Her Şey Çok Güzel Olacak”, o slogan de campanha de Ekrem Imamoglu, o homem que está apostado em destronar 25 anos do domínio do partido do presidente Erdogan na maior e mais importante cidade turca. E em fazê-lo pela segunda vez em menos de 3 meses, depois das primeiras eleições terem sido anuladas pela Suprema Comissão Eleitoral.

Mas há uma outra frase bastante menos escrita e ouvida por estes dias, nem por isso menos importante: “A montra da loja pode mudar, mas o que está lá dentro permanece igual.” Esta última foi dita pelo próprio Presidente Tayyip Erdogan, ao falar sobre a possibilidade de uma vitória de Imamoglu nas eleições. Erdogan refere-se ao facto do seu partido, o AKP, ter nas suas mãos 24 das 39 circunscrições de Istambul, para além de dominar a Assembleia Municipal. E como só as eleições para presidente da Câmara vão ser repetidas, essa é uma realidade que não se vai alterar. A mensagem que Erdogan quer transmitir é que, aconteça o que acontecer, tudo ficará mais ou menos na mesma.

Em Besiktas, um dos bastiões do CHP, partido de Imamoglu, a confiança está em alta. “Da última vez a diferença foi de apenas 13 mil votos. Mas agora poderá ser de 100 a 200 mil”, confia Rasim, com a bandeira do “Vai ficar tudo bem” na mão. “Foi uma grande injustiça para ele, é por isso que ele vai ganhar de novo. Foi a maior injustiça na história da República da Turquia. Nós queremos justiça para Imamoglu. Este domingo a justiça vai vencer.“

Em sentido contrário, Can Batmaz, um dos responsáveis da secção do AKP em Beyoglu, insiste que houve roubo de votos que prejudicou Binali Yildirim, o ex-primeiro ministro a agora candidato a Istanbul pelo partido de Erdogan. “Binali ganhou da primeira vez. Eles fizeram batota nas mesas de voto. E é só por isso que agora há novas eleições.”

As sondagens apontam para uma vitória de Imamoglu no domingo, garante Can Selçuki, da Istanbul Economic Research. “O consenso é de que o senhor Imamoglu está na frente. Onde os estudos diferem é na margem da vitória.”

Um futuro candidato à presidência?

Istambul é a maior cidade da Turquia, com 16 milhões de habitantes, e representa mais de um terço da riqueza do país. Para além da importância económica, tem o peso simbólico de ter sido o berço político do Presidente Tayyp Erdogan, que foi presidente da Câmara entre 1994 e 1998. Foi a plataforma que o lançaria mais tarde para a chefia do Governo, e mais recentemente para a presidência. Em 17 anos, nunca perdeu uma eleição.

Caso vença no domingo, muitos veem já em Imamoglu um potencial forte candidato contra Erdogan nas eleições presidenciais de 2023. “Imamoglu é uma grande esperança para Istanbul. Quando vencer vai ser um bom Presidente e se calhar com o seu trabalho e com aquilo que fizer de bom nos próximos 5 anos ele será o Presidente em vez do Erdogan. Desejo-o ardentemente do meu coração”, confessa Rasim, um dos seus apoiantes de Besiktas.

Mas, na opinião de Can Selçuki, é demasiado cedo para vaticinar o destino político de Imamoglu, que durante vários anos presidiu a um dos distritos de Istambul. “Ele teve uma ascensão política muito rápida, mas ainda não o vimos em acção num cargo público de relevo. Ainda não o vimos a governar um orçamento grande, a gerir uma enorme estrutura de recursos humanos. Ele tem ainda muito caminho a percorrer.”