O relatório tem dezenas de páginas e foi concluído a 16 de outubro de 2013. É um dos dois documentos incluídos nos FinCEN Files que estão relacionados com Isabel dos Santos. Uma funcionária do departamento de compliance do JP Morgan Chase Bank, nos Estados Unidos, enviou-o no dia seguinte para a FinCEN, a agência federal responsável por processar e reencaminhar suspeitas sobre potenciais esquemas de lavagem de dinheiro para eventual investigação pelas autoridades policiais.
Nove meses antes disso, a filha mais velha do então ainda presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, tinha-se tornado mundialmente famosa, quando a revista Forbes anunciou-a como a primeira mulher multimilionária de toda a África. Com isso também tinham começado a surgir artigos negativos na imprensa internacional sobre a promiscuidade que essa riqueza significava, incluindo informações produzidas pela Global Witness. O interesse suscitado à volta da a jovem estrela acabada de entrar para o ranking dos mais ricos do mundo fez com que em agosto de 2013 a Forbes voltasse a publicar um artigo sobre ela, desta vez escrito a meias com o jornalista angolano Rafael Marques, dando conta de como aquela era uma história não apenas de glamour, mas de profundos conflitos de interesse e de corrupção.
Apesar de nem Isabel dos Santos nem o seu pai serem seus clientes, o relatório enviado à FinCEN mostra como o JP Morgan tinha estado envolvido indiretamente, como banco correspondente, em transferências relacionadas com a família e com o Estado angolano. Houve uma transferência, em particular, que chamou a atenção do compliance da instituição: Sindika Dokolo, o marido de Isabel dos Santos, tinha enviado a 2 de março de 2012 quatro milhões de dólares para uma conta de uma empresa holandesa, a Melbourne Investments BV, que passaram por uma conta correspondente do JP Morgan. Como o banco “foi incapaz de identificar qualquer outra transferência relacionada com a Melbourne Investments BV nem qualquer perfil público sobre ela, isso reforçou a possibilidade de se tratar de uma empresa de fachada sem nenhum propósito comercial”, lê-se no relatório.
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