As yields das Obrigações do Tesouro (OT) português no prazo de referência, a 10 anos, fecharam no mercado secundário em 2,84%, um novo máximo do ano, que está, agora, ao nível das yields registadas em dezembro de 2014.
Durante a sessão de hoje chegaram a atingir 2,87%. O anterior máximo de 2015 havia sido registado a 7 de janeiro com um valor de fecho de 2,73%. Desde final de abril são as yields que mais subiram em toda a zona euro, mais de 70 pontos base.
A subida abrangeu toda a zona euro, com exceção da Grécia. As maiores subidas diárias verificaram-se para as yields das obrigações francesas e alemãs no prazo a 10 anos. As yields das obrigações italianas e espanholas nessa maturidade de referência fecharam acima de 2%, e registam subidas de mais de 60 pontos base em relação ao final de abril.
O movimento de subida dos juros da dívida na zona euro, com exceção da Grécia (que revela uma trajetória própria em função da evolução das negociações entre o Governo de Atenas e os credores oficiais desde final de janeiro), regista-se desde final de março.
A mudança de atitude dos investidores em relação à dívida obrigacionista da zona euro manifesta-se desde final de março, deixando para trás mínimos históricos nas yields em toda a zona euro (com exceção da Grécia) e yields negativas num conjunto amplo de prazos em sete economias do euro (Alemanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Holanda e Irlanda) que se tem reduzido. Recorde-se que as OT a 10 anos registaram um mínimo histórico de 1,51% em março. Desde essa altura já subiram mais de 1 ponto percentual.
A rentabilidade anual (nas últimas 52 semanas) da dívida obrigacionista portuguesa (em todos os prazos) continua a cair. Baixou esta terça-feira para 7,78% depois de ter registado 8,99% no final de maio e 12,08% no final de abril, segundo dados do índice da Bloomberg (Bloomberg Global Benchmark Sovereign Bond Indexes).
Inflação pela primeira vez desde há 6 meses
O afastamento do espectro da inflação negativa na zona euro está a contribuir para a alteração das yields e a falta de liquidez no mercados está a ampliar o seu movimento de subida.
O Eurostat divulgou esta terça-feira as previsões preliminares para a inflação da zona euro em maio apontando para valores acima das previsões dos analistas, confirmando uma subida de 0,3% na variação de preços em cadeia (de um mês para o seguinte) e de 0,9% em termos homólogos (entre maio de 2014 e maio de 2015).
Depois de quatro meses em inflação negativa, na variação em cadeia, entre dezembro de 2014 e março de 2015, a inflação está em terreno positivo. É a primeira vez em seis meses que a inflação reaparece.
O afastamento do risco de deflação (inflação negativa persistente e generalizada) é atribuído aos efeitos do programa de compras de dívida pública obrigacionista no mercado secundário pelo Banco Central Europeu (BCE), que totalizam cerca de 146,7 mil milhões de euros desde 9 de março até 29 de maio, e à subida do preço do barril de petróleo de Brent de um mínimo de 47,7 dólares em janeiro para mais de 60 dólares desde meados de abril. O preço do Brent fechou em 65,52 dólares no final de maio e mantém-se no patamar dos 65 dólares.
Outra boa notícia dada esta terça-feira pelo BCE revela que, pela primeira vez desde 2009, as PME da zona euro referem uma melhoria na disponibilidade de crédito bancário e uma queda nas taxas de juro dos empréstimos, segundo o relatório sobre o acesso a financiamento por parte das empresas na zona euro realizado pelo banco central junto de 11720 empresas, 91% das quais com menos de 250 empregados.
Juros da dívida grega descem e “Grupo de Berlim” apresenta proposta amanhã
As yields da dívida grega a 10 anos mantêm-se acima de 11%, mas recuaram esta terça-feira 44 pontos base, fechando em 11,18%, um nível similar ao do final de maio.
O facto de não se registar uma subida para níveis próximos ou superiores a 13% (um máximo do ano verificado a 21 de abril fechando em 13,44%) deve-se aos mercados financeiros continuarem a apostar na possibilidade de um acordo entre o governo grego e os credores oficiais evitando em junho um evento de crédito por parte do Tesouro grego.
A reunião de emergência em Berlim de segunda-feira à noite dos mais altos representantes dos credores oficiais (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) com a chanceler alemã Ângela Merkel e o presidente francês François Hollande decidiu que o grupo, já batizado de “Grupo de Berlim”, deveria trabalhar com “intensidade” numa solução.
O diário helénico “Naftemporiki” fala da possibilidade de um “acordo intercalar”. Na segunda-feira, o governo grego enviou aos credores oficiais uma proposta de 47 páginas onde aponta para metas de excedente primário orçamental de 0,8% em 2015, subindo para 1,5% em 2016, segundo a Agência de Noticias de Atenas.
O presidente do Eurogrupo (órgão que reúne os ministros das Finanças da zona euro), o ministro holandês Jeroen Dijjselbloem, colocou hoje alguma água na fervura sobre a iminência de um entendimento ao declarar que um acordo “não era teoricamente possível esta semana”.
No entanto, o “Grupo de Berlim” terá acordado esta terça-feira uma proposta que será transmitida na quarta-feira ao governo grego, não se sabendo se haverá uma teleconferência com o primeiro-ministro Alexis Tsipras ou mesmo uma reunião presencial de alto nível, noticia o jornal helénico “Kathimerini” na sua edição em inglês.
A data crítica desta semana é 5 de junho, quando o Tesouro grego terá de enviar para o FMI um cheque de mais de 300 milhões de euros como amortização de uma tranche do empréstimo.
BCE deverá continuar a manter ELA à Grécia
Há alguma expetativa em torno da reunião do Banco Central Europeu (BCE) de quarta-feira em que o tema “Grécia” deverá estar no menu.
Esta terça-feira, Daniele Nouy, chefe do organismo do BCE para a supervisão bancária, afirmou que os bancos gregos continuam solventes apesar da fuga de depósitos (21 mil milhões de euros entre dezembro de 2014 e final de abril de 2015, segundo os mais recentes dados oficiais) que se terá acelerado em maio.
A declaração de Nouy afasta a possibilidade de haver uma decisão drástica do BCE que dificulte o acesso da banca helénica à linha de assistência de emergência de liquidez (conhecida pela sigla inglesa ELA) através do banco central grego. O BCE decidiu esta terça-feira aumentar o teto da ELA em 500 milhões de euros subindo-o para 80,7 mil milhões de euros. Na semana passada não havia autorizado nenhuma subida.