Na estrada nacional 122, a caminho de Mértola, a dado momento, o verde abraça a paisagem. Às portas de Vale do Açor de Cima, estende-se a Herdade dos Lagos. Numa zona de planície, onde o olhar se espraia por hectares de erva seca nos campos, entrar neste lugar remete para uma espécie de oásis no coração do baixo Alentejo. Há vinha, olival, zonas de floresta. E, descobrimos depois, um grande alfarrobal, abrigos para morcegos, romãzeiras, marmeleiros e loendros a encabeçar as linhas de vinha. E muito mais.
É preciso aprender a ler este território, que se vai revelando uma lição de sustentabilidade. Na herdade existem cinco lagos, que lhe dão o nome, construídos há quatro décadas, destinados a armazenar a água da chuva. É esta a água usada para as regas necessárias nos mil hectares da quinta. Foi um “visionário”, o alemão Horst Zeppenfeld, que se apaixonou por Portugal, e depois por este sítio, o responsável por este empreendimento. “Veio numa Primavera em que tinha chovido muito, e fez-lhe lembrar os campos da Alemanha onde ele morava”, conta Helena Manuel, a gestora da herdade. Apesar do cenário, o comandante da marinha mercante, sem qualquer experiência em agricultura, não se deixou iludir. “Decidiu sempre investir muito na retenção de água dentro da herdade, e na plantação de floresta. Todos os anos tinham de plantar 25 hectares” de árvores autóctones, conta. A paisagem desertificada pelas sucessivas campanhas de cereais deu lugar a um terreno fértil.
A Herdade dos Lagos, que todos os anos vende cem mil litros de vinho e 500 toneladas de azeite, está desde 2012 em produção biológica. Seguimos pelos corredores da quinta, guiados por Helena Manuel e a enóloga Marta Pereira. Mais tarde, juntar-se-á Kika, a cadela e mascote.
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