Ao longo de uma vida política cheia, Mário Soares teve vitórias e derrotas, períodos de isolamento político e momentos de glória. Ficou associado à luta contra a ditadura e à construção da democracia em Portugal. Ganhou dois combates decisivos, ambos associados a um número mágico: 130 mil pessoas. Aproximadamente as que estiveram no comício da Fonte Luminosa em Lisboa (19 de junho de 1975), ponto alto da luta contra o gonçalvismo, e o número de votos que lhe deu a vitória sobre Freitas do Amaral na segunda volta das eleições presidenciais de 1986 (16 de fevereiro).
Foi três vezes primeiro-ministro (1976/78 e 1983/85) e Presidente da República em dois mandatos sucessivos (1986/96). Ganhou eleições pelo PS (1975, 1976 e 1983) e perdeu-as para a coligação PSD/CDS/PPM (1980) e para o PSD de Cavaco (1985). Mas em política, como disse Nelson Mandela, o importante não é quantas vezes se é deitado ao chão pelos adversários mas quantas vezes somos capazes de nos voltar a levantar. Ou como dizia o próprio Soares, só é derrotado quem desiste de lutar.
Soares merece ser recordado como obreiro central da democracia e não pelos seus defeitos pessoais — afinal era um homem e não um semideus da antiguidade clássica —, pelos seus excessos ou pelos famosos e injustos ataques de raiva visando colaboradores próximos.
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