50 anos do 25 de Abril

Primeiras eleições livres são tema central das comemorações dos 50 anos de Abril este ano

Primeiras eleições livres são tema central das comemorações dos 50 anos de Abril este ano
Henrique Casinhas/SOPA Images via Getty Images

A Comissão vai destacar a “participação massiva” nas eleições de 1975 para a Assembleia Constituinte, que se mantêm como as mais participadas de sempre, com uma taxa de abstenção inferior a 9%

Primeiras eleições livres são tema central das comemorações dos 50 anos de Abril este ano

Hélio Carvalho

Jornalista

Os eventos das comemorações dos 50 anos da democracia, que continuam este ano e se prolongam até 2026, terão como destaque “os temas da participação e da democratização”, e as primeiras eleições livres no país, a 25 de abril de 1975 para a Assembleia Constituinte, serão o principal tema das ações planeadas ao longo do ano, que incluem exposições, campanhas, projetos em escolas, colóquios, publicações de obras e eventos artísticos e musicais.

Além do marco dos 50 anos das primeiras eleições completamente livres após o fim da ditadura, o programa incluiu uma evocação dos “acontecimentos históricos como o 11 de Março e o 25 de novembro” e das “independências das antigas colónias em África”. Antes da apresentação da agenda deste ano, Maria Inácio Rezola, historiadora e comissária executiva, enalteceu em comunicado que “a participação massiva” nas eleições de 1974 representam “o cumprimento de um dos objetivos centrais do programa do MFA” e que é importante “recordar” a construção da democracia, “revisitando o passado e projetando o futuro da democracia portuguesa”.

“Em 2025, promoveremos exposições, campanhas evocativas, projetos escolares e de formação, debates e diversos espetáculos. Continuaremos também o trabalho que vimos desenvolvendo no âmbito da produção e divulgação de conteúdos históricos, em edições e no nosso site. Pretendemos que esta continue a ser uma celebração nacional, que contribua para uma sociedade mais conhecedora da sua história recente, mais participativa, inclusiva e democrática”, afirmou a responsável.

No final da apresentação, questionada sobre a possibilidade de o 50.º aniversário do 25 de Novembro ficar marcado por novas polémicas e ataques políticos, Maria Inácio Rezola sublinhou que "a história faz-se de diferentes ideias polémicas e a história única, o pensamento único existia até 24 de Abril de 1974". "É bom que essas divergências surjam, mas que as consigamos registar, ouvir e pensar nelas, e debatê-las com sabedoria que 50 anos de distância devem dar a estes debates", apontou a comissária.

O programa da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, com as principais iniciativas programadas até ao final de 2025, foi apresentado esta quinta-feira, na Escola Superior de Música de Lisboa. A apresentação contou com a inauguração da exposição “Haverá eleições. 50 anos das eleições para a Assembleia Constituinte”, com a curadoria da cineasta Catarina Vasconcelos e do politólogo Pedro Magalhães, que aborda o processo de transição democrática até às primeiras eleições e que estará na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, entre os dias 22 de abril e 22 de outubro.

A cerimónia de apresentação do programa completo de 2025 também teve uma introdução sobre o projeto “... E temos o povo... Todos os sons da primeira montagem radiofónica do 25 de Abril”, que poderá ser ouvido no dia 25 de Abril em Lisboa, que contempla sons e partes da reportagem do programa da Renascença que "nunca mais foram ouvidos". A primeira montagem radiofónica da revolução foi apresentada por Adelino Gomes (um dos jornalistas da Rádio Renascença que narrou a revolução a partir das ruas de Lisboa), Isabel Meira e André Cunha; a montagem de Pedro Laranjeira dessa manhã, explicou Isabel Meira, mantiveram-se guardados por respeito à família de Laranjeira, mas foram agora oferecidos à Comissão dos 50 Anos do 25 de Abril e serão preservados pelo Arquivo Nacional do Som.

O evento terminou com a atuação musical “Voto na Matéria", uma banda sonora criada por jovens entre os 12 e os 18 anos da academia de música urbana Skoola, com a mentoria de Carolina Deslandes. A comissária executiva explicou que o hino foi "especialmente composto" para uma campanha direcionada aos jovens, entitulada "#TensPoder", que será divulgada pelas redes sociais e que servirá para "lembrar aos jovens o poder que a democracia lhes dá".

"Um dos objetivos desta campanha é percebermos que, se a prática política formal que o voto representa é muito importante e fundamental, foi preciso lutar muito para que nós tivéssemos direito ao voto e que há outras formas de nos envolvermos, participarmos e contribuirmos para que a democracia seja melhor e funcione melhor", realçou Maria Inácio Rezola.

As ações comemorativas deste ano dividem-se em quatro tipos de atividades, entre eventos para “recordar e partilhar”, como exposições e campanhas evocativas; para “aprender e ensinar”, que passará por projetos em escolas; para “pensar e debater”, com colóquios e edições; e ainda cerimónias e espetáculos artísticos para “celebrar” as diferentes efemérides. O programa completo poderá ser consultado no site 50anos25abril.pt/agenda/.

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Serão ainda divulgadas datas e locais para iniciativas como a exposição fotográfica “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a Revolução portuguesa”, a sondagem “A Descolonização Portuguesa 50 anos depois” (que tentará perceber “como os portugueses percecionam os legados da descolonização”), ou o projeto de cidadania juvenil “25 de Abril, 25 Assembleias participativas jovens”, em 25 cidades diferentes.

Sobre a sondagem, Maria Inácio Rezola sublinhou que "raramente são feitas questões sobre processos como a guerra colonial ou como a descolonização", e a comissão pretende "aferir a percepção que existe sobre esses fenómenos históricos 50 anos depois". "Todos sabemos que não é uma história pacífica, que continuam a existir mágoas, dores ou tentativas de manipulação histórica desse período, mas vamos aguardar pelos resultados da sondagem para podermos perceber o que é que aconteceu na opinião pública relativamente a esses factos marcantes da história desses povos africanos e da nossa própria história", afirmou.

O primeiro evento na agenda é um debate marcado para o próximo dia 26 de fevereiro, na Casa da Imprensa, em Lisboa, onde será assinalado o 50.º aniversário da publicação da primeira lei que não previa qualquer tipo de censura à liberdade de imprensa.

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril começaram em 2022, quando o tempo de democracia ultrapassou o tempo vivido em ditadura, e desde então foram realizadas mais de 300 iniciativas por todo o país e abertas quatro linhas concursais de apoio às artes e à ciência, que atribuíram um total de 3,3 milhões de euros a 130 projetos diferentes. Estes projetos passaram por parcerias com associações ligadas ao cinema e a conteúdos audiovisuais, à literatura e às bibliotecas, à investigação científica, e a outros projetos “que contribuíssem para a reflexão” do 25 de Abril. Mais de 160 iniciativas tiveram apoio institucional e foram acolhidas mais de 940 propostas entre 2022 e 2024, “incluindo pedidos de apoio financeiro, integração no programa, convites e outros apoios logísticos e de divulgação”.

Os eventos vão continuar até 2026, ano em que foi aprovada e entrou em vigor a Constituição da República Portuguesa. Cada ano tem um tema diferente ligado ao processo de construção da democracia e, a partir de 2024, esse tema passou pela revisitação dos três ‘D’ do programa do MFA (descolonizar, democratizar, desenvolver). Depois do mote deste ano sobre as primeiras eleições livres, o ano de 2026 ficará marcado pelo tema do desenvolvimento e vai destacar as primeiras eleições legislativas e o caminho até à adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE).

[Notícia atualizada às 18h02]

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