Sustentabilidade e embalagem

Reutilizáveis e inteligentes: eis as novas embalagens

Reutilizáveis e inteligentes: eis as novas embalagens

Inovação. Entre copos inteligentes, aerogéis, novos recipientes de leite, ecodesign com resíduos de madeira, ou novo material reciclável, estes cinco projetos abrem uma janela para a transformação em curso no sector. Perceba porquê

Está tudo por fazer em Portugal” no campo do reaproveitamento dos resíduos. Mas podem contar com o contributo de Ricardo Morgado e da Zero Cups — Smart Bulk System para começar a fazer algo. Sobretudo após o projeto se ter sagrado como o grande vencedor do Prémio Novo Verde, num evento em que se conheceram as ideias finalistas e em que os intervenientes deixaram bem claro que há ainda um longo caminho a percorrer.

“Temos um problema estrutural que vem da conceção”, atirou, sem rodeios, Ricardo Pereira, CEO da Sirplaste: “Há muitas embalagens que são estúpidas, que não são pensadas para o destino final”, resumiu. A “política de resíduos ficou como uma espécie de parente pobre da política ambiental”, lançou o ex-secretário de Estado do Ambiente, José Eduardo Martins. Da robotização de todo um sistema, a mais de 13 mil toneladas de material reciclado que antes ia para aterro, há muito para conhecer nos cinco finalistas.

1 Zero Cups — Smart Bulk System

O projeto que venceu os €25 mil para melhor projeto do Prémio Novo Verde resulta de uma parceria entre as empresas The Loop Company e a Loja Do Zero e consiste num sistema inovador e disruptivo de compra a granel, com o objetivo de substituir embalagens de uso único por embalagens reutilizáveis inteligentes. O objetivo é que os Zero Cups sejam capazes de circular inúmeras vezes, permitindo manter todo o histórico, rastreabilidade e medir o impacte ambiental ao longo da sua vida. As embalagens incorporam “tecnologia NFC” para permitir “ao consumidor, com o seu telemóvel, saber tudo” sobre os produtos que já passaram pela embalagem, explica Ricardo Morgado. É o primeiro tijolo de um “ecossistema completamente circular”, em que uma das características será a “robotização dos dispensadores”. O dinheiro do prémio será agora utilizado para a alavancar a prototipagem, automatização da operação e desenvolvimento de software, com expectativa de chegada ao mercado em novembro deste ano.

2 aeroREPC

Esta ideia (que valeu uma menção honrosa que não estava prevista) consiste no desenvolvimento de novos aerogéis — material sólido poroso extremamente leve derivado de um gel, cuja parte líquida foi substituída por um gás — a partir de resíduos de embalagem pós-consumo (REPC), o que “é pioneiro”, diz Luísa Durães, investigadora da Universidade de Coimbra, porque “atualmente, não existem aerogéis totalmente desenvolvidos a partir de resíduos de plástico”. O resultado são “propriedades excelentes ao nível do isolamento térmico e acústico, tendo aplicações em diversas áreas, desde a indústria da construção civil à indústria aeroespacial”.

3 Dairy Connected Bottle

”Reinvenção” é a palavra-chave deste projeto que se propõe mudar o recipiente branco “de iogurte ou leite” tal como o conhecemos. “Nas novas embalagens” diz Milena Parnigoni, da Logoplaste (produtora de embalagens plásticas rígidas), será incluído “um código ou uma textura que permite identificar a embalagem, origem e o material que a compõe. Estes códigos são passíveis de serem identificados através de “sistemas óticos de leitura” ou “através de um simples telemóvel”, por exemplo.

4 New Food Packaging from Nature

Meta? “Desenvolver e produzir embalagens de madeira, 100% naturais, inovadoras no design e com um fabrico mais sustentável, obtidas por aglomeração dos resíduos de madeira resultantes do atual processo de produção e um adesivo natural obtido da casca da madeira”, revela Irene Ferreira, da Freshwood, empresa que desenvolve, fabrica e comercializa embalagens leves à base de folha de madeira. A ideia surgiu quando se chegou à conclusão que “50% da madeira consumida para produzir” as atuais embalagens se convertiam “em resíduo”, o que levou à procura de uma solução de circularidade para contrariar o desperdício e oferecer novas soluções aos clientes. Até porque “não existem atualmente soluções no mercado similares às preconizadas”.

5 Tray2Tray

Desenvolvido pela Klöckner Pentaplast, fabricante de embalagens de plástico, este projeto premeia a incorporação de material reciclado pós-consumo proveniente de recipientes alimentares, valorizando desta forma um recurso que até agora era enviado para incineração ou aterro. “Comprometemo-nos a tornar todos os nossos produtos 100% recicláveis até final de 2025, o que envolve desenvolvimento de novos tipos de embalagens”, conta Pedro Lobato: “Se queremos que este negócio seja sustentável a longo prazo, temos de criar uma economia circular.” Ou seja, “se eu sou produtor de bandejas alimentares, devo criar uma economia circular de bandejas”, defende. Entretanto já foram produzidas “mais de 700 milhões” de embalagens alimentares com “mais de 13 mil toneladas de material reciclado”, a caminho de ultrapassar as 43 mil em 2025.

PROMOVER A MUDANÇA E GARANTIR UM CONSUMO SUSTENTÁVEL. João Barreiros e Ricardo Morgado apresentaram o Zero Cups — Smart Bulk System (que pode conhecer melhor no texto principal) no edifício do Grupo Impresa e saíram com o grande prémio de €25 mil do Prémio Novo Verde Packaging Enterprise Award. A economia circular e o reaproveitamento de resíduos foram os grandes tópicos de discussão do evento. FOTO José Fernandes
José Fernandes

RECICLAGEM: O QUE SE FAZ E O QUE FALTA FAZER

  • Portugal comprometeu-se a atingir a neutralidade carbónica até 2050, o que implica a redução de emissões de gases com efeito de estufa entre 85% e 90%.
  • Contudo ainda há muito a fazer. Para atingir as metas ambientais é preciso continuar a promover mudanças no reaproveitamento de resíduos e, por exemplo, utilizar mais materiais recicláveis nas embalagens.
  • De acordo com os dados mais recentes do Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos, Portugal reciclou apenas 16,1% dos resíduos em 2020, o que representa uma quebra face a 2019, e é um sinal preocupante, quando a meta comunitária para 2025 é de 55%.
  • Cada habitante em Portugal produz em média 1,4 quilos de lixo por dia, o que equivale a 513 quilos anuais, com mais de metade a ir para aterro, o que é superior à média de 23% da UE. As embalagens de plástico em Portugal representam 8% dos resíduos, também superior à média europeia.
  • Desde 1 de novembro de 2021 que é proibida a colocação no mercado de determinados produtos de plástico de utilização única. Em conjunto com novas embalagens, são passos importantes para melhorar os índices de sustentabilidade.

Um novo prémio

A iniciativa Novo Verde Packaging Enterprise Award, que recompensa um projeto inovador no sector das embalagens, conta nesta edição com o Expresso como parceiro de media. Este prémio, que distingue trabalhos de investigação e desenvolvimento (I&D) com origem na indústria, distribuição ou áreas tecnológicas, tem um valor global de €25 mil.

Textos originalmente publicados no Expresso de 9 de junho de 2022

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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