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Ministério Público chama para interrogatório agente da PSP que matou Odair Moniz

Odair Moniz foi morto a tiro em circunstâncias que ainda não estão completamente esclarecidas...
Odair Moniz foi morto a tiro em circunstâncias que ainda não estão completamente esclarecidas...
António Pedro Santos/Lusa

Procuradora Patrícia Naré Agostinho quer ouvir o agente da PSP da Amadora que matou Odair Moniz durante uma operação policial no Bairro da Cova da Moura, em outubro. O polícia, que já tinha sido ouvido pela PJ, vai prestar declarações. Para já, é arguido por homicídio simples. Investigação da PJ poderá estar prestes a ser concluída

Ministério Público chama para interrogatório agente da PSP que matou Odair Moniz

Rui Gustavo

Jornalista

Ministério Público chama para interrogatório agente da PSP que matou Odair Moniz

Hugo Franco

Jornalista

Patrícia Naré Agostinho, a procuradora encarregada da investigação à morte de Odair Moniz às mãos da polícia, quer interrogar já o agente da PSP que disparou os dois tiros fatais. Esta informação é confirmada pelo advogado do polícia, Ricardo Serrano Vieira: "Estamos a conciliar agendas, deverá ser em meados de dezembro".

O agente de 27 anos, que continua de baixa, prestou declarações à PJ no mesmo dia em que matou Odair Moniz, de 43. Na altura - 21 de outubro - não estavam presentes nem o advogado, nem um magistrado do Ministério Público (MP). Isto significa que estas declarações não podem ser usadas como prova num eventual julgamento.

Esta convocatória poderá significar que a investigação da PJ estará prestes a ser concluída. Uma informação que não foi no entanto confirmada oficialmente.

O agente da PSP foi constituído arguido pela PJ e indiciado por um crime de homicídio simples, punível com uma pena de prisão entre os oito e os 16 anos. Nas declarações que prestou à Judiciária, o agente admitiu que não houve uma tentativa de agressão com arma branca por parte de Odair Moniz, ao contrário do que foi escrito no comunicado oficial da PSP, feito com base no auto de notícia elaborado pelo polícia e pelo colega que o acompanhava na noite em que mandaram parar Odair Moniz.

Agentes alegam legítima defesa

O Expresso sabe que os polícias garantiram à PJ que Odair Moniz desobedeceu à ordem para parar e iniciou um confronto físico já depois de se ter despistado na Cova da Moura. Tinha uma faca, mas não chegou a empunhá-la. Os agentes alegam que agiram em legítima defesa. Odair foi atingido com dois tiros: um numa axila e o outro no sub-abdómen. Morreria cerca de uma hora depois no Hospital de São Francisco Xavier, para onde foi transportado.

A morte deste cozinheiro que morava no Bairro do Zambujal provocou uma onda de desacatos que teve o episódio mais grave no bairro da Cidade Nova, em Santo António dos Cavaleiros, Loures. Um motorista, Tiago Cacais, foi encurralado no autocarro que conduzia e queimado com cocktails molotov. Esteve um mês internado e a PJ deteve esta semana dois suspeitos de o terem atacado: ambos ficaram em prisão preventiva, a medida de coação mais gravosa, indiciados por tentativa de homicídio qualificado, dano e incêndio. Segundo fonte oficial do Tribunal de Loures, ambos negaram ter cometido aquele crime.

O motorista, que ficou internado com queimaduras graves, foi entrevistado para a CNN Portugal e para o “Diário de Notícias”.

A vítima revelou que teve uma arma apontada à cabeça e acabou por ser queimado, em conjunto com o autocarro, após a saída de todos os passageiros. Em entrevista ao “Diário de Notícias”, divulgada esta quinta-feira depois da detenção dos suspeitos, Tiago Cacais disse que foi um dia de "alívio".

"Espero que as pessoas que me atacaram sejam condenadas, presas e paguem uma indemnização", declarou.

À TVI, o motorista contou que, durante a madrugada do ataque, as ruas estavam vazias e após conseguir sair do autocarro foi acudido "por uma senhora que saiu de um prédio" e que ficou 10 minutos à espera da ambulância — que nem conseguiu chegar ao local onde se tinha escondido e obrigou-o a andar cerca de 150 metros.

Em ambas as entrevistas a vítima recordou o processo de recuperação. O coma foi induzido e esteve vários dias nos cuidados intensivos, com dores que apenas a morfina apagava — acabou por perder 16 quilos. Apesar da situação, Tiago quer voltar ao trabalho.

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