Sindicalista sob inquérito justifica-se, mas insiste: "As estruturas sindicais não controlam isto". MAI acusado de "precipitação"
Concentração de polícias frente ao Ministério da Administração Interna enquanto decorria a reunião do ministro com as direções da PSP e GNR
TIAGO PETINGA
Presidente do Sindicato Nacional dos Polícias que admitiu boicote às eleições diz que não fez ameaças e que “seria irresponsável" não alertar, porque "pode haver risco de as coisas acontecerem". Plataforma Sindical acusa MAI de “precipitação” ao falar de insubordinação
O presidente do Sindicato Nacional dos Polícias voltou este domingo à SIC Notícias para “clarificar” algumas das coisas que na véspera dissera na estação, quando ameaçou que os protestos dos agentes possam pôr em causa as eleições de 10 de março. Sem “desmentir nada”, Armando Ferreira - a quem o Ministério da Administração Interna pediu que seja aberto um inquérito - justificou-se: “Eu não andei a ameaçar, limitei-me a alertar para um perigo” porque “pode haver o risco de as coisas acontecerem”.
“Eu não estava à espera do que aconteceu ontem [sábado] em Famalicão e, de repente, fomos confrontados com aquela situação, que nos apanhou de surpresa”, afirmou o dirigente sindical, que justificou a dramatização que protagonizou na véspera da seguinte forma: “Depois de Famalicão [onde a ausência de agentes de segurança cancelou um jogo de futebol da primeira Liga], tudo é imprevisível, o que possa acontecer, e as estruturas sindicais não controlam isso”.
Garantindo não estar nas redes sociais e até “ter tentado acalmar” os colegas que diz encontrar nas manifestações “com ideias estapafúrdias”, Armando Ferreira diz que os sindicatos apenas “têm lutado pelos direitos dos polícias, mas ”não controlam" situações “que se iniciam não sabemos bem como”.
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“O que me preocupa não é o inquérito”, diz o dirigente sindical, referindo-se à reação do MAI que pôs em xeque a legalidade das suas declarações na SIC, onde chegou a afirmar: "Temo que o sr. primeiro-ministro não vá ficar em funções só até 10 de março".
Em causa estaria um eventual bloqueio dos polícias, responsáveis por transportar as urnas com os boletins de voto, inviabilizando o normal curso do processo eleitoral
No sábado ao final da noite, o gabinete do ministro José Luis Carneiro emitiu um comunicado a convocar os diretores nacionais da PSP e da GNR para as reuniões que decorreram este domingo de manhã, e também a mandar instaurar dois inquéritos, um deles às declarações de Armando Ferreira.
Plataforma Sindical acusa MAI de precipitação
Entretanto, a Plataforma Sindical de Polícias - que reúne vários sindicatos do setor - considerou este domingo que houve "precipitação e alguma leviandade" do Governo em qualificar como insubordinados os agentes que entregaram baixas médicas e falharam o policiamento de um jogo de futebol.
Em declarações à Lusa, o porta-voz da plataforma, Bruno Pereira, considerou “um paradoxo as declarações do ministro, ao afirmar que vai abrir inquéritos para averiguação de factos "ao mesmo tempo que assume preliminarmente que há responsabilidade e que há culpa por parte dos polícias, nomeadamente relativamente às baixas médicas".
O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, com o diretor nacional da PSP, Barros Correia, e com o comandante geral da GNR, Rui Alberto Veloso
Bruno Pereira acusou José Luís Carneiro de "laivo persecutório" contra os polícias, que o Governo não demonstrou quando os médicos "se recusaram a fazer urgências para lá do razoável". "Apelo pelo menos a alguma cautela na moderação das palavras para que não acicatemos ainda mais os ânimos, tendo em conta que eles já estão bastante acicatados e os polícias já estão num nível de intolerância máximo. (...) Não nos precipitemos também com alguma leviandade em qualificá-los como insubordinados. Não cai bem, não fica bem, e não é de modo algum respeitoso", disse à Lusa o responsável sindical.
Em comunicado, consideram ter recebido da tutela "um claro sinal de ameaça", e acusam o Governo de, "incapacidade política, falta de preparação e, sobretudo, o esgotar da legitimidade e do reconhecimento enquanto tutela, desta que é das mais importantes pastas de um Governo".