Religião

Papa Leão XIV afasta qualquer reforma em relação às mulheres e aos fiéis LGBT+, para não "incentivar a polarização"

Papa Leão XIV afasta qualquer reforma em relação às mulheres e aos fiéis LGBT+, para não "incentivar a polarização"
Guglielmo Mangiapane

Na primeira entrevista desde a sua eleição, Leão XIV diz estar alinhado com o acolhimento de "todos, todos, todos", defendido por Francisco, mas refutou quaisquer alterações doutrinárias, como o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo

O Papa Leão XIV descartou qualquer alteração doutrinária a curto prazo quanto ao lugar das mulheres e ao acolhimento dos fiéis LGBT+ na Igreja Católica, na primeira entrevista desde a sua eleição.

Sobre a possibilidade de ordenar mulheres diáconas, que foi debatida numa assembleia internacional em 2023 e 2024, o papa de 70 anos afirmou que "não tem qualquer intenção de mudar o ensinamento da Igreja sobre o assunto" a curto prazo.

No entanto, o norte-americano afirmou que deseja "continuar no caminho" do antecessor, o argentino Francisco, "nomeando mulheres para cargos de liderança em diferentes níveis da vida da Igreja".

Na entrevista, incluída num livro lançado hoje no Peru, o Papa falou sobre o acolhimento dos fiéis LGBT+ na instituição bimilenar, questão que descreveu como "muito sensível" e polarizadora.

Leão XIV disse estar alinhado com o acolhimento de "todos, todos, todos", defendido por Francisco, mas refutou quaisquer alterações doutrinárias, como o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

"Acredito que o ensinamento da Igreja se manterá como está", afirmou o norte-americano, numa entrevista publicada no livro "Leão XIV, Cidadão do Mundo, Missionário do Século XXI", em espanhol.

"Estão todos convidados, mas não convido ninguém pela sua identidade particular", enfatizou o Papa, explicando que não queria "incentivar a polarização dentro da Igreja".

Fiel aos ensinamentos do catecismo católico, Leão XIV reiterou o seu apoio à "família tradicional" – "pai, mãe e filhos" - cujo "papel, que, por vezes, sofreu nas últimas décadas, deve ser reconhecido e fortalecido de novo".

No início de setembro, o Papa recebeu em audiência privada o padre norte-americano James Martin, um dos principais defensores dos fiéis homossexuais na Igreja Católica, mas não se dirigiu publicamente aos cerca de 1.400 católicos LGBT+ que tinham peregrinado recentemente no âmbito do Jubileu, o "Ano Santo" da Igreja.

O norte-americano, que viveu quase 20 anos no Peru e também tem nacionalidade peruana, analisou os desafios que se colocam a uma Igreja Católica dividida por correntes divergentes, quatro meses depois de ter sido eleito líder.

A entrevista pode ser interpretada como uma mensagem a um segmento da Igreja apegado à tradição, enquanto o antecessor Francisco insistia na necessidade de abertura.

Francisco, que morreu em abril, aos 88 anos, foi alvo de ataques internos sem precedentes por parte de uma ala conservadora, particularmente devido às restrições ao rito latino tradicionalista e às críticas à Cúria Romana, o governo central da Santa Sé.

Sem alterar a doutrina, o argentino aumentou a abertura a divorciados que tinham voltado a casar e fiéis LGBT+, e autorizou bênçãos para casais do mesmo sexo no final de 2023, uma decisão que provocou a reação negativa dos conservadores, particularmente em África e nos Estados Unidos.

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