O Ministério Público (MP) pediu hoje 25 anos de prisão para o homem acusado de matar uma mulher grávida da Murtosa que está desaparecida desde outubro de 2023.
O arguido está acusado dos crimes de homicídio qualificado, aborto, profanação de cadáver, acesso ilegítimo e aquisição de moeda falsa para ser posta em circulação.
Durante a sessão, que foi aberta ao público, ao contrário do resto do julgamento que decorreu à porta fechada, a procuradora disse que devem ser dados como provados todos os factos da acusação e, em consequência, o arguido ser condenado numa pena exemplar, que deverá situar-se no limite máximo dos 25 anos de prisão.
Ao longo das suas alegações, que demoraram mais de uma hora, a procuradora abordou os principais factos da acusação, nomeadamente os registos de chamadas e dados de telemóvel do arguido e as imagens de videovigilância que detetam a passagem da viatura do arguido na Torreira, no dia em que terá ocorrido o homicídio, bem como o estado de limpeza profunda em que se encontrava o apartamento onde terá ocorrido o crime.
Referiu ainda que a versão do arguido e dos seus pais apresenta incongruências e contradições e não podem merecer credibilidade.
O advogado que representa os filhos menores de Mónica Silva e o pai destes e viúvo, uma vez que apesar de estarem separados o divórcio ainda não estava consumado, acompanhou o pedido do MP de condenação do arguido em 25 anos de prisão e no pagamento das indemnizações requeridas pelos assistentes.
António Falé de Carvalho disse que os álibis apresentados por Fernando Valente e pela família foram desmascarados, sustentando que havia um plano para matar a Mónica e um isco que seria o pedido para ela mostrar as ecografias.
Apesar da ausência do corpo e de prova direta, o advogado assinalou que a prova digital tem "uma importância brutal", considerando que as provas indiretas neste caso "são suficientemente fortes para condenar o arguido".
Já o advogado de defesa rebateu todos os factos da acusação e criticou duramente a investigação, falando em "prova manipulada e ocultada", e afirmou que o que se passou neste processo é escandaloso.
"A acusação pretende demonstrar que houve um crime de homicídio, com base em meras presunções. Isto é processualmente inadmissível. Não restará outra solução a este tribunal senão absolver o arguido", disse o advogado André Fontes.
O advogado acusou ainda os inspetores da PJ de terem agredido o homem que foi contratado para fazer a limpeza do apartamento da Torreira para "dizer que realizou uma limpeza que nunca aconteceu".
Rebateu também a tese de que o arguido seja o pai da criança, adiantando que durante o julgamento houve um médico que determinou que a data da conceção da criança foi o dia 25 de março, quando a vítima teve relações sexuais com outro homem.
Finalmente, referiu-se às notas falsas encontradas na casa do arguido, afirmando que eram adereços de um "kit de magia" e foram adquiridas num site de vendas on-line na internet.
Após as alegações finais, Fernando Valente prestou as últimas declarações, reafirmando a sua inocência.
"Não sei o que se passou com a Mónica. Não sei absolutamente nada. Não lhe fiz absolutamente nada", afirmou.
A leitura do acórdão ficou marcada para 8 de julho, às 10:00.
O julgamento realizado com tribunal de júri (composto por três juízes de carreira e oito jurados) decorreu à porta fechada, sem a presença de público e jornalistas, por decisão da juíza titular do processo, para proteger a dignidade pessoal da vítima face aos demais intervenientes envolvidos, nomeadamente os seus filhos.
O Ministério Público acusa o arguido de ter matado a vítima e o feto que esta gerava, no dia 03 de outubro de 2023 à noite, no seu apartamento na Torreira, para evitar que lhe viesse a ser imputada a paternidade e beneficiassem do seu património.
A acusação refere ainda que durante a madrugada do dia 04 de outubro e nos dias seguintes o arguido ter-se-á desfeito do corpo da vítima, levando-o para parte incerta, escondendo-o e impedido que fosse encontrado até hoje.